A SIC Notícias, num episódio de O CEO é o Limite, podcast do jornal Expresso, destacou aspetos relevantes da entrevista que Rui Serpa, o vice-presidente e diretor executivo da Coca-Cola em Portugal, concedeu à jornalista Cátia Mateus. Um dos pontos mais importantes foi a decisão de Rui Serpa de se demitir «do cargo de diretor-geral que ocupava na Colômbia, em prole do equilíbrio familiar».
A expressão correta é «em prol», não «em prole», revelando um deslize ortográfico ou uma confusão entre os termos prol e prole. A troca explica-se por serem parónimos, isto é, por apresentarem semelhança quanto à estrutura fónica: a pequena diferença está no -e de prole. Esta vogal final é tão fraca, que, em Portugal, acaba por desaparecer (por apócope), com o resultado de os dois vocábulos se tornarem homófonos, ou seja, passarem a ter a mesma pronúncia, ainda que mantendo os significados diferentes.
Além disso, prol e prole têm percursos distintos. Prol, nome feminino e masculino, deriva do latim vulgar prode (de prodest, «é útil»), que significava «benefício, vantagem ou lucro» (Dicionário Houaiss); atualmente, ocorre apenas na locução «em prol de», que indica algo feito em benefício ou defesa de algo ou alguém. Por outro lado, prole, nome feminino, tem origem no latim proles e refere-se à descendência ou filhos. Portanto, na peça jornalística em causa, ao escrever «em prole do equilíbrio familiar», pretendia-se provavelmente referir a um benefício para a família, mas acabou-se aludindo inadvertidamente aos filhos ou descendentes.
Enfim, o que realmente aconteceu foi que o "CEO" Rui Serpa – porquê o anglicismo? – decidiu cuidar da sua prole (descendência) e, em prol do equilíbrio familiar, tomou uma decisão importante na sua carreira profissional. Mais um episódio, portanto, de grande distração na escrita, cujo registo aqui fica como lembrete da importância da precisão linguística.