Numa notícia, é errado ou, sequer, questionável o emprego do substantivo nega — usado no site Executive Digest («No início deste ano, a Food and Drug Administration dos EUA concedeu à Neuralink aprovação para realizar testes em humanos do seu dispositivo, depois de uma nega inicial por questões de segurança.») —, em vez, por exemplo, de «negativa», «recusa» ou «rejeição»?
Nem pouco mais ou menos.
Primeiro, porque não é um erro de português, nem, tão-pouco é certo — e ao contrário do que aqui se aventou — que uma maior informalidade lexical em textos noticiosos afeta a sua credibilidade.
Depois, por se tratar, antes do mais, de um questão de estilo – ou seja, de gosto –, decorrendo ela, apenas, da orientação editorial específica da publicação em causa. Um recurso que em nada diminui a sua veracidade noticiosa, no pressuposto básico de ela ser sempre confirmada e com o devido contraditório respeitado.
Mais propensa na oralidade característica no audiovisual – nomeadamente no meio rádio –, os chamados jornais populares recorrem, amiúde, a este tipo de linguagem mais informal e criativa, tanto em Portugal como no Brasil. Ou seja, nos denominados tabloides, como eles são referidos na gíria; mas não só, valha a verdade….
É o caso destes seis exemplos:
«Escola às cegas com testes rápidos» (Correio da Manhã)
«Fernando Gomes a ver navios» (Tal&Qual)
«Quando estiver chalupa, aviso» (ibidem)
«Brasil nas Olimpíadas é… Tiro, Porrada e Bomba» (Meia Hora)
«Quase 'dia do fico' de Doria teve pistas sobre traição, ameaças e reviravolta» (Folha de S. Paulo)
«Alianças estaduais e afagos a Lula: como o PSDB se aproxima do PT. O movimento no ninho mira acertos locais» (Veja)
Criatividade e vivacidade de estilo
Faz parte do bê-a-bá da escrita jornalística a clareza, a simplicidade, a concisão, a precisão e o rigor da informação prestada – mas, também, tal como se recomenda nos manuais de redação, a criatividade de estilo, ritmada e com vivacidade narrativa.
É neste campo específico que cabem, perfeitamente, palavras e expressões coloquiais – sempre, quando e para uma maior facilitação de compreensão (e interesse) por parte do comum dos leitores, ouvintes ou telespectadores.
Nada questionável, portanto, se o redator de uma notícia, na sua liberdade criativa, preferir escrever, por exemplo, «fuga para a frente» deste ou daquele político; ou que Fulano «deu o braço a torcer»; ou que Sicrano é o «braço direito» de alguém; ou que o acordo X «foi por água abaixo»; etc., etc., etc.
Nada questionável e, acima de tudo, sem o mínimo prejuízo na credibilidade do assunto noticiado – não obstante a viável opção menos informal não seguida (e.g., «fugir do problema»/«principal colaborador»/«fracassado»).
Salvo, obviamente, no caso de rarear o essencial: conhecimento elementar do idioma pátrio por parte do autor do texto jornalístico.
Cf. Lingua Viva + Elementos e princípios do jornalismo + Linguagem jornalística + Técnicas de redação jornalística + Manual de Redação de Textos Jornalísticos + Livro de Estilo: o que é e qual a utilidade + Livros de Estilo do Público, da Lusa, da Agência Eclésia e da Folha de S. Paulo + Para um Manual de Redação do Jornalismo On-line
Cf. Língua, jornalismo e informalidade + Dar nega a Elon Musk.