Défice de português nas edições do jornal Público — é mais um alerta do respectivo provedor do leitor, Joaquim Vieira.
O jornalismo deveria possuir como uma das suas obrigações éticas a pedagogia da língua em que se exprime. Ou seja, no nosso caso, cada órgão de informação tinha o dever de se constituir como reduto de bom português. Coisa que quem lê jornais sabe nem sempre acontecer, até quando a matéria se relaciona com educação. Repare-se nesta passagem do artigo "Estar sempre muito à frente", sobre um dos docentes que este ano foram distinguidos com o Prémio Nacional de Professores, publicado na pág. 7 do P2 de 20 de Dezembro: «Fala sempre na segunda pessoa do plural — o 'nosso' trabalho, 'nós aqui na biblioteca'.» A frase foi retomada ipsis verbis, com o erro que os leitores já terão detectado, para destaque. Os protestos não tardaram. O leitor Armando Mouta Pinto limitou-se a chamar a atenção, já que o destaque chamou a atenção dele. Quanto a Jorge Falé, foi muito mais acerbo: «É lastimável o modo como o jornal trata a língua portuguesa. (...) Sai um texto assinado por quem ignora a diferença entre as várias pessoas do discurso. Não contente com tal disparate, o jornal, revelando uma revisão deficientíssima, dá destaque à brutalidade linguística. (...) Ocorre perguntar: que tipo de provas de selecção prestam estes profissionais? Quem admite o pessoal não se apercebe das incapacidades destas pessoas? A não ser que o objectivo seja afastar os leitores — aí, sim, estão de parabéns.» E, em retrospectiva: «A 11 de Dezembro, saiu um texto péssimo, a nível de estudante do primeiro ano de Linguística, que falava da história da língua portuguesa [secção Iniciativas, pg. 46]. É tal a pobreza franciscana da redacção, tão rudimentar a sintaxe, que se espera não corresponda ao nível do projecto que pretende divulgar.» Neste caso, o leitor entra na hipérbole, já que uma revisão atenta faria o artigo cumprir a sua função. O que nem sempre se pratica no Público, expondo-se assim uma das suas fragilidades.
in Público, 28 de Dezembro de 2008