No ano que corre, o Dia dos Finados será, em muitos casos, vivido sem a tradicional visita aos cemitérios. A necessidade de evitar os contactos sociais obriga a que se confinem também os sentimentos para com os defuntos.
A palavra finados convoca no seu cerne a ideia de fim. Formada a partir do particípio do verbo finar, que vem do latim finis, aponta o extremo, o limite de algo. O finado é aquele que atingiu a fronteira da vida e a passou para lá do seu limite.
Esta fase é concebida como uma derradeira viagem que exige a quem a enceta o último dos esforços, levando ao cansaço extremo. São estas noções que explicam a necessidade de o esforço que foi a vida ser seguido de repouso, o que vem também explicar, em parte, a criação de metáforas como «o sono dos justos», «descanso eterno» ou «dormir o sono eterno».
E se a morte é o momento de repouso, o local onde tal acontece só poderia receber o nome de cemitério, porque esta palavra significava na sua origem grega “dormitório”. Ainda hoje entre os eufemismos usados para aligeirar a ideia de cemitério encontramos as expressões dormitório ou «última morada».
Mas, na verdade, a última morada dos finados é sobretudo dentro do coração daqueles que os recordam e será aí que o Dia dos Finados continuará a ter lugar neste ano de pandemia.
(Áudio disponível aqui)
Cf. Tanatário
Apontamento da autora no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 1 de novembro de 2020.