Chega-nos a notícia de que numa cadeira de mestrado da Faculdade de Direito de Lisboa, o professor responsável das cadeiras Direito Penal IV e Direito Processual Penal II associa o feminismo ao nazismo («[O] ‘nazismo’ de género [é] o totalitarismo dos Estados feministas do Ocidente»).
É legítima, portanto, a pergunta: O que têm o feminismo e o nazismo em comum? Antes de mais, as palavras são ambas nomes comuns e partilham o mesmo sufixo (-ismo), que, nos séculos XIX e XX, começou a ser usado para designar movimentos sociais, ideológicos, entre outros.
A palavra feminismo, que chegou ao português por empréstimo do francês féminisme, designa a doutrina que defende os direitos das mulheres na sociedade, bem como o movimento que luta para que tal aconteça. Já nazismo, que se formou a partir da junção do nome alemão nazi ao sufixo -ismo, designa o movimento e a doutrina nacional-socialista criada por Hitler.
Concluímos, assim, que feminismo e nazismo se aproximam morfologicamente por partilharem o mesmo sufixo, que os define como nomes de movimentos. Todavia, estas palavras afastam-se diametralmente do ponto de vista semântico, pela ideologia que convocam, presente na sua significação. Não esqueçamos que no nazismo a mulher não tinha lugar, pois eram as capacidades do homem que eram destacadas e cultivadas. As mulheres deviam ser esposas e mães e não tinham direito a uma carreira profissional. Ora, como se vê, tudo no nazismo é motivo de luta feminista.
O feminismo aconteceu por necessidade de consciência, para repor uma injustiça de género e exige todos os dias que se lute por ele. O nazismo surgiu para impor uma nova consciência, para criar uma nova ordem assente na desigualdade de género e de origens e exige todos os dias que se lute contra ele.
Afinal, feminismo e nazismo muito pouco têm em comum e só poderão aparecer num mesmo discurso se a visão da realidade que associa as palavras não procurar a justiça que é de direito e o equilíbrio social que, a não ser respeitado, deve ser matéria de direito (penal).
Ou isso ou estamos perante outro ismo, agora um extremismo, daqueles que caracterizam os tempos que correm e que defendem o corte dos ovários como a solução final.
Cf. Faculdade de Direito abre “processo de inquérito” a professor que compara feminismo ao nazismo