Ler foi…
… descobrir os segredos que escondiam as letras quando se juntavam; seguir histórias incríveis vazadas em letras grandes numas incríveis três páginas; conseguir fazer sozinha o que outros já tinham feito por mim; foi abrir a porta de mundos cheios de aventura, cada vez maiores, e viver noutros locais, ser outras pessoas, combater criminosos, apaixonar-me, chorar, rir, ter amigos, descobrir inimigos, construir lugares secretos, pensar, revoltar-me, aceitar e recomeçar. Ler foi descobrir um mundo novo!
Ler é…
… aconchegar duas filhas no calor de uma voz de sapo gigante, menina, fada, estátua, flor, mar e estrela; levá-las pela mão para dentro de ilustrações repletas de cor e vida, gastas de tanto vistas, e depois para dentro de pequenas palavras (a-ma, an-da…), de pequenas frases («A menina chora a lua.»), de histórias que vão crescendo como um sorriso que se vê; deixá-las ir, com uma pequena lágrima feita de solidão sentida, já lendo sozinhas, já escolhendo mundos, já preferindo heróis, já vivendo em mundos outros, com criminosos em série e mágicos extraordinários, com sentimentos descobertos e pessoas de papel tão reais que ensinam a ser e a sentir; vê-las ter novos olhos que olham um mundo tão velho. Ler é dar a descobrir um mundo novo!
Ler será…
… reconfortar-me com a saudade da partilha; lembrar o que cada história construiu e perceber que não teria sido a mesma coisa; rever cada livro como um passo, um laço, um sentimento, um abraço; compreender que somos feitos de tanta coisa, mas também de livros, de muitos livros, o da minha vida, o da tua, o amado e o entediante, o espantoso e o horroroso; é ter o colo quentinho e as mãos em concha segurando um livro e esperando o próximo ser a levar pela mão e a fazer feliz. Ler é esperar sempre um mundo novo!
Boas leituras!
(às minhas filhas)
Texto divulgado originalmente em Leya Educação.