Considerado o género musical mais emblemático de Cabo Verde, cuja candidatura a Património Imaterial da Humanidade foi recentemente oficializada, é obscura a origem da palavra morna. A tese mais consensual aponta a origem alentejana no sentido em que morna pode aduzir a calma ou lenta, assim como o género musical cabo-verdiano. E há ainda autores a associar as mesmas raízes com o fado, por cantar também a saudade, em particular, e os sentimentos, de modo geral. Essa fusão com o fado ter-se-ia dado em Lisboa e, posteriormente, como género distinto, fixando-se em Cabo Verde.
Outras fontes atribuem a origem do substantivo morna – «canção e dança populares de Cabo Verde, de carácter dolente, geralmente em modo menor, ritmo sincopado e vagaroso»* – ao adjetivo morna, feminino de morno, «que provoca uma sensação térmica moderada, entre o quente e o frio», «talvez do francês morne, "triste"»**, «pouco quente, tépido». Em sentido figurado, «sem energia, frouxo, sem vivacidade; que revela pouco entusiasmo; sereno; monótono, amolecedor; insípido, sensaborão».
Já José Pedro Machado, no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 1977, considera que, do ponto de vista semântico, morno teve origem no século XIV «… dalhe de comer enesse dia gualinha com aguoa morna do espique…». Por outro lado, temos a teoria de Bertil Maler, que se ocupou deste vocábulo em 1953. O estudioso concluiu que o adjetivo remonta a vulturnus, e surgiu na península ibérica através do latim e deu origem em catalão a butorn, e em espanhol bochorno, assumindo o significado de «calor sufocante». Vulturnus terá resultado em português em butorno, assim como cultellus deu em cuitelo, e depois cutelo. Nesta fase, a palavra foi influenciada por modorro, modorrento, adjetivo que significa «sonolento», depois «indolente», e cujo significado era próximo ao de butorno, agora adjetivo como azedo < acetum. A passagem semântica do significado "de um calor sufocante e pesado" para o de "morno" não é surpreendente, veja-se o latim tepor, "morno", relacionado com sânscrito tápas, "calor". O resultado da confusão de butorno e de modorro está em modorno, e esta é uma forma que achamos eficaz, em uma passagem que, se não me engano, ainda não foi levada em conta. Essa passagem encontra-se em Boosco delleytoso solitario (Lisboa, 1515), capítulo LXVIII, onde se lê: «… seer aguçoso os preguiçosos e os modornos». A reconciliação de "priguiçosas" e "modornos" de um lado, e de outro a oposição destes dois adjetivos a "aguçosas" e "modornos" significando aqui "indolente, morno" e que estamos na presença da forma antiga de morno. O cair tardio do d intervocálico deu em modorno, por intermédio de moorno, morno. O b inicial de butorno manteve-se, portanto, na forma borno, atestado nos dicionários portugueses.