Um poema retirado de A Matéria do Poema, do poeta português Nuno Júdice, num tom informal e leve, sobre a importância do verbo (principal e auxiliar) e da voz (ativa e passiva) no discurso e o valor expressivo dos modos e dos tempos das diferentes conjugações.
Principal ou auxiliar, é o verbo que faz mover
o discurso, dando à existência a sua qualidade
activa, e transformando-a no ser idêntico
que reúne em cada sujeito e estado, sem
distinguir uma ideia de outra. Porém, a
conjugação dos tempos e modos multiplica
o que dizemos por nós, por vós e por eles,
desde o passado ao futuro; e no presente
em que o enunciamos, o verbo é ser o que
é, sem ter sido o que será, na definição
conjugada das pessoas que agem, sem
que o saibam, e das que sabem, sem agir.
In A Matéria do Poema, Lisboa, Dom Quixote, 2008 (manteve-se a grafia da fonte utilizada)