Breve história. Em 1931 foi aprovado o primeiro Acordo Ortográfico entre Brasil e Portugal, que não foi posto em prática. Em 1945, o acordo tornou-se lei em Portugal, mas não no Brasil. Em 1975, a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras fizeram um novo projecto do acordo, que não foi aprovado. Em 1986, foi elaborado um memorando. Por esta altura, criou-se em Portugal o chamado Movimento Contra o Acordo Ortográfico. Em 1990 as duas academias elaboraram o «novo» acordo, para entrar em vigor a 1 de Janeiro de 1994. Em 1998 é assinado um primeiro protocolo modificativo; em 2004 um segundo protocolo, dando como suficiente a ratificação por apenas três países signatários.
Pausa no enredo: um acordo ortográfico diz respeito apenas à escrita, ou seja, a uma convenção gráfica; não impõe nenhuma pronúncia, sintaxe ou vocabulário.
Segue-se então que o Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe ratificaram o acordo e os dois protocolos. Neste momento, o Brasil prepara-se para aplicar o acordo já em 2008. Portugal ratificou o acordo, mas não o segundo protocolo e quer agora introduzir uma cláusula para que as alterações entrem em vigor daqui a 10 anos.
Bom, se Portugal considera irrelevante a unificação da grafia para efeitos de produção de documentos internacionais, como exames e certificados para estrangeiros, por exemplo, assim como para a edição de livros e dicionários de língua portuguesa — sendo os portugueses 10 milhões e os brasileiros 190 milhões — então mais vale dizer isso mesmo e dar o acorde final no fado do acordo moribundo.
*Artigo publicado no semanário Sol de 1 de Setembro de 2007, na coluna Ver como Se Diz