1. No Pelourinho, detetam-se dois erros com temporalidades diferentes. Um é bem antigo, devolvendo-nos à época em que a preocupação não eram os anglicismos, mas, sim, os numerosos galicismos que saturavam o discurso. Um texto de Filipe Carvalho capta um eco desses tempos na atualidade: a troca ainda insistente da locução «a fim de» pela forma incorreta «"afim" de». Outra confusão é bem recente e, em Portugal, decorre de uma generalização apressada, segundo a qual qualquer c antes de t desaparece por causa do Acordo Ortográfico. Não é assim: já aqui se disse repetidas vezes* que, nas normas europeia e africana, esse c é efetivamente pronunciado e, portanto, tem de ser escrito, como acontece com facto – «ação, coisa, ocorrência» (com tal significado, portanto, nunca, "fato", a não ser no Brasil). A propósito deste tópico, um apontamento de Paulo J. S. Barata foca mais um caso, o da palavra contacto, que, em terras lusitanas, aparece por vezes indevidamente grafada como "contato".
* Voltamos a lembrar que, na Internet, estão disponíveis os vocabulários ortográficos atualizados, quase todos integralmente, a saber: o Vocabulário Ortográfico do Português (ILTEC); o Vocabulário Ortográfico Comum (IILP), que inclui vocabulários ortográficos nacionais, entre eles, o de Portugal; o vocabulário ortográfico da Porto Editora (acesso pela Infopédia); e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras. Lembramos ainda que o Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa (VOALP) da Academia das Ciências de Lisboa se encontra em livro eletrónico, ao qual se pode aceder parcialmente nos Google Books.
2. O consultório recebe três novas perguntas: rio e ribeira escrevem-se com maiúscula inicial quando acompanham nomes próprios como Tejo ou Vinhas? Que preposições podem ocorrer depois do particípio passado do verbo adornar? Como classificar sintaticamente «de chocolate» no grupo nominal «um bolo de chocolate»?
3. No programa de rádio Língua de Todos de sexta-feira, 18 de março (às 13h15* na RDP África; repete no sábado, 19 de março, depois do noticiário das 9h00*), Sandra Duarte Tavares esclarece várias dúvidas: qual a diferença entre «ter de» e «ter que»? E uma coisa sem importância, que se pode desprezar, é desprezável, ou desprezível? O Páginas de Português de domingo, 20 de março (pelas 11h30*, na Antena 2), dá relevo a um seminário sobre o português que o Centro Camões do King's College de Londres organiza em 29 de março p. f., contando com a participação de duas linguistas e professoras na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: são entrevistadas Esperança Cardeira, que fala sobre a visão histórica do galego-português, e Alina Villava, acerca das palavras parassintéticas nas línguas ibéricas.
* Hora oficial de Portugal continental.