1. A crise sanitária mundial e a sua evolução têm levado a que muito se escreva e fale sobre a situação. Este fenómeno tem vindo a desencadear um considerável dinamismo no plano lexical, relacionado não só com a mobilização de léxico específico de determinadas áreas mas também com a necessidade de descrever a situação que se está a viver. É neste contexto que começaram a ser usadas expressões figuradas suscetíveis de traduzir a intensidade do que tem lugar, como calamidade ou hecatombe, ou que se recorre ao uso de metáforas do domínio bélico para descrever a forma como se pode enfrentar a ameaça da propagação das infeções. Um apontamento da professora Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, onde se reflete sobre as palavras e expressões usadas para descrever um «inimigo invisível».
Primeira imagem: "O pesadelo", de Henry Fuseli, 1781.
2. Da memória do léxico medieval, chega até nós o termo arrabiado, cujo significado é atualmente opaco para muito falantes, eventualmente por falta de contacto com a realidade que este designa. Uma das respostas da atualização do Consultório vai em busca da história da formação da palavra e dos seus significados. Palavra de uso atual é então, cuja versatilidade gera dificuldades no momento de distinguir quando é um advérbio ou quando funciona como um conector. Do grego, chega até nós a palavra zóster, que tanto significa «zona, faixa, cintura», como integra a expressão herpes-zóster, que designa uma afeção da pele. É este termo que causa dúvidas quanto à grafia correta da sua flexão no plural. Uma resposta ainda sobre a incompatibilidade temporal patente na frase «A história da dança tem sido escrita há séculos» e uma resposta que explica por que razão em «Olá a todos» não há lugar a vírgula.
3. O termo inglês lay-off, que significa «dispensa temporária de pessoal», continua a ter uma presença constante na comunicação social. Atendendo, porém, a que se verifica uma grande flutuação na sua grafia, recordamos que este deve ser escrito em itálico e com um hífen entre os dois termos. Esta palavra integra já A covid-19 na língua, glossário desenvolvido pelo Ciberdúvidas a que se juntam, nesta atualização, os termos acatamento, patógeno, R 0, terapêutico/potencial terapêutico e zoonose.
A palavra lay-off é nome (substantivo) que provém do inglês e se escreve com hífen (cf. Dicionário Infopédia e Dicionário Priberam). Na língua inglesa, pode escrever-se hifenizado – lay-off – ou como uma única sequência de letras – layoff –, assim se distinguindo do verbo correspondente, lay off (literalmente, «largar, deixar, abandonar»), que se grafa sem hífen [cf. Lexico.com, Cambridge Dictionary (em linha), dicionário Collins COBUILD (em linha) e dicionário Merriam-Webster (em linha)].
4. O dinamismo lexical associado à pandemia da covid-19, que temos assinalado para a língua portuguesa, tem também reflexos no galego, sendo marcado por palavras cujo uso tem vindo a ser incrementado e também por neologismos, como é o caso de "desescalada" (que, em português, corresponde ao termo desconfinamento), cujos usos e significados são analisados no artigo de Irene Pin, publicado originalmente no diário galego Nòs e que aqui transcrevemos com a devida vénia.
5. A Semana Mundial da Imunização é promovida pelas Nações Unidas entre 20 e 27 de abril. Todos os anos continua a registar-se a morte de 1,5 milhões de bebés por falta de vacinação, pelo que a UNICEF continua a desenvolver esforços para vacinar o maior número possível de crianças (ver notícias aqui e aqui). A questão da vacinação tem-se tornado mais premente devido à investigação que tem sido desenvolvida em vários laboratórios mundiais em busca de uma vacina contra o novo coronavírus – como se refere nesta notícia.
A propósito de imunidade e vacinação, recordamos algumas repostas no arquivo do Ciberdúvidas: «Antónimo de imunidade», «Imunitário / imunológico», ««Imunidade contra vírus...», ou «imunidade a vírus...»?», «Sistema imunitário», «O significado de alo-imune», «Infecções oportunísticas»,«Vacina», «Qual a pronúncia de bactéria?»
6. Em Portugal, os alunos do 11.º e 12.º ano poderão regressar às aulas presenciais no dia 18 de maio e as creches abrirão a 1 de junho. É esta a intenção do Governo, caso a situação continue a evoluir positivamente. A reunião com especialistas da Direção-Geral da Saúde, que terá lugar no dia 28 de abril, será fundamental para o desenvolvimento da estratégia de retoma faseada da normalidade.