Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Aberturas
Por José Mário Costa

O disparate do benvindo a fazer de bem-vindo voltou a fazer das suas, agora em forma de cartazes colocados pela Câmara Municipal [prefeitura] de Lisboa dando as boas-vindas aos visitantes do Euro 2004. O que vale é que, desta vez, nem as televisões – e, em particular, a pública RTP, honrando ao menos uma vez as suas obrigações estatutárias – deixaram de o assinalar, confrontando o próprio presidente alfacinha com o mamarracho ortográfico. O dr. Pedro Santana Lopes escusava é de se ter agastado tanto com a repercussão mediática de um erro que, de facto, já assume foros de cidadania... Bastava só pedir a um qualquer sr. Benvindo da capital portuguesa que participasse numa sessão pública de cumprimentos aos primeiros adeptos [torcedores] estrangeiros de futebol que chegam por estes dias a Portugal. Quem, assim, não se sentiria ainda mais bem-vindo ao país destas e de tantas outras subtilezas linguísticas?...

Cf. O anómalo Kinas e o desnecessário "newsletter" + Serão mesmo portugueses os estádios para o Euro 2004?

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Muitas e diversificadas perguntas chegaram na semana ora finda ao Ciberdúvidas sobre palavras não dicionarizadas, mas de uso corrente (cinotécnica, por exemplo). Ou só registadas nos dicionários mais antigos ou mais especializados (casos de mistagogia, de falécio, de jardineto ou de pertencimento). Ou sobre novos termos de fixação ainda duvidosa (legendador ou “legendário”?). Ou, ainda, de controversa aceitação (vide Sobre o termo pidgin + Prioridade, prioritário e derivados mal formados + O “evolutível” e outros desnecessários francesismos). Mas houve também perguntas a que não foi possível dar resposta, dada a sua descontextualização. Por isso, voltamos a pedir a quantos nos consultam: para nos podermos pronunciar com segurança sobre o significado preciso ou a correcta ortografia de vocábulos ou expressões de uso mais restrito, é indispensável a transcrição da frase (de preferência, até, da origem) onde elas se leram ou ouviram.

Por José Manuel Matias/José Mário Costa

1. «Os responsáveis dos programas [do ensino do Português nas escolas secundárias em Portugal] são linguistas e os linguistas têm ódio à literatura. Esse é o principal problema. Preocupam-se com a questão comunicacional e não com o valor da própria língua.» – declarou o poeta e eurodeputado Vasco Graça Moura, em entrevista à revista dominical do “Público”. «Os linguistas discordam, isso sim, da posição de que o ensino do português se deve reduzir à leitura de textos literários. (…) Esta discordância (…) radica no conhecimento dos milhares de páginas publicadas de resultados de investigação desenvolvida nos países do "pelotão da frente", a que queremos pertencer», respondeu a linguista Inês Duarte, no semanário “Expresso”, cujas páginas – mais propriamente do caderno “Actual” – acolheram uma série de outros seis textos, deles e de três outros intervenientes, numa polémica como há muito não se lia em Portugal. O tema em si e a qualidade intelectual dos envolvidos não deixarão de interessar a quantos consultam o Ciberdúvidas para saber sempre mais sobre o nosso idioma comum.



2. A resposta a uma pergunta sobre o plural de “stand” e o respectivo aportuguesamento proposto pelo Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea fez-nos regressar entretanto a uma outra controvérsia antiga. Cf. O positivo e o negativo no Dicionário da Academia + Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa + Os méritos do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa. Que outra língua no mundo estimula assim tão amplo e permanente debate?

Por José Mário Costa

A propósito do aumentativo de jardim, do diminutivo de som, do adjectivo irrepetível e do substantivo apropriabilidade – qualquer deles ainda sem consagração nos dicionários – falámos de novo de uma das cara(c)terísticas da língua portuguesa: a sua espantosa maleabilidade. Mas falámos, também, de palavras mal dicionarizadas, como é o caso desse aberrante “stande”. Ou, ainda, de outras menos conhecidas como foleca, distopia ou assertoar. E até houve oportunidade de voltarmos a uma questão várias vezes respondida aqui no Ciberdúvidas: quantas palavras tem uma língua de cultura, como a nossa? E devemos dizer «Mandou-o fazer...» ou «mandou-lhe fazer...»? Finalmente: por que razão o pronome se se antepõe à forma verbal sempre que introduzida ou precedida de que?

Até para a semana!

Por José Manuel Matias/José Mário Costa

Os 30 anos do 25 de Abril, que se comemoram em Portugal, assinalam, jubilosamente, o colapso de uma ditadura de meio século e o fim de uma guerra colonial injusta e anacrónica. E não só.

A “Revolução dos Cravos”, como ficou para a História essa madrugada libertadora de 1974, não trouxe apenas a democracia para os portugueses e a outorga da independência para Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe (Timor, desgraçadamente, teve de suportar a invasão e a ocupação indonésia até 1999). Representou também uma outra liberdade para a língua portuguesa, deixando-lhe marcas profundíssimas, como assinalou no ano passado para o Ciberdúvidas a linguista Margarita Correia, no texto O 25 de Abril no léxico português, cuja (re)leitura aconselhamos vivamente.

Com o 25 de Abril, há 30 anos, a censura foi abolida em Portugal e extinta a PIDE/DGS, a polícia política que perseguia, prendia, torturava e matava os portugueses e africanos que pensavam politicamente de forma diferente. A torrente caudalosa que brotou do 25 de Abril desagrilhoou também a língua. Novas palavras, novas expressões, novas siglas e novos conceitos irromperam por todo o lado e em toda a parte. As livrarias encheram-se de traduções de grandes escritores até aí lidos apenas por uma elite mais viajada, tendo passado a ser traduzidos livremente em português autores tão distintos como Paul Celan, Henry Miller, Vladimir Nobokov, Simone de Beauvoir ou Jean-Paul Sartre.

Muitos e novos escritores, de Portugal a Timor, de Mário de Carvalho a Pepetela ou Mia Couto, enriqueceram ainda mais a «chama plural» que é esta nossa «língua de oito pátrias», na feliz expressão de João Carreira Bom.

Graças ao 25 de Abril, partilhamos hoje uma língua em oito países independentes, mais pujante que nunca. Esta é a língua de trabalho de doze organizações internacionais, elo de ligação de 200 milhões de seres humanos, espalhados pelos cinco continentes.

Por tudo isto, festejemos os 30 anos do 25 de Abril.

Por José Mário Costa

Por que motivo, em Portugal, há clubes de futebol que passaram a ser nomeados no feminino, quando, antes, a União de Leiria ou a Naval da Figueira da Foz, por exemplo, vinham sempre no masculino (o Leiria, o Naval)? E no Brasil: é o Palmeiras ou a [Sociedade Esportiva] Palmeiras? Já agora: que regras gramaticais regem o emprego do artigo definido antes dos dias da semana? E é «Ele faz com cada pergunta» ou «Ele faz cá cada pergunta»? Ainda: é «sair de trás, «sair detrás» ou «sair de detrás»? Ou ainda: Qatar não deverá ser, antes, Catar, em português?

Disto e de muito mais se fez uma nova semana de Ciberdúvidas.

Por José Manuel Matias/José Mário Costa

Devido à semana da Páscoa, Ciberdúvidas só volta com as suas actualizações diárias na segunda-feira, dia 12. Até lá, ficam em linha 30 novas respostas (60 ao todo nesta última semana) e tudo o mais que, sobre a língua portuguesa, já estava ou passou a estar acessível, como sempre, pelo motor de busca.

A este propósito – e lamentando não termos podido ainda ultimar a remodelação gráfica anunciada, a partir da qual ficará muito mais facilitada a pesquisa no Ciberdúvidas –, chamamos a atenção, de novo, para os procedimentos indispensáveis, resumidos no texto abaixo exposto, Veja nas Respostas Anteriores.



P.S. – As perguntas que ainda não obtiveram resposta tê-la-ão imediatamente após o regresso de Ciberdúvidas no dia 12 de Abril.

Por José Manuel Matias/José Mário Costa

1. Sendo o âmbito específico do Ciberdúvidas a língua portuguesa, há semanas em que as perguntas que nos chegam implicam referências obrigatórias a outras disciplinas do saber e do conhecimento. Foi o caso da semana ora finda, com a Filosofia necessariamente envolvida, quando uma consulente nos interrogou sobre a palavra agnóstico. Mas também com a Botânica, quando uma outra consulente deu o seu contributo para a tradução de Hippophaë Rhamnoides. Ou com História, ao recordarmos as viagens que o nosso idioma fez pelo mundo, quando se cruzou com o japonês, no tempo em que o português era a língua veicular no comércio, no século XVI na Ásia. E recordámos, ainda, que temos no nosso vocabulário 954 palavras de origem árabe.



2. A propósito de palavras de origem árabe e ainda a pronúncia, e a grafia, de al-Qaeda. Como se assinala no Pelourinho, não podia ter sido mais oportuno ouvir a forma apropriada como o primeiro-ministro português pronunciou, no seu último debate na Assembleia da República, em Lisboa, a palavra que mais divide hoje, e pelas piores razões, o mundo em que vivemos. E acreditem mesmo, senhores deputados (e, já agora, senhores jornalistas, e senhores locutores, e senhores comentadores, e quem mais se obriga a bem falar e a bem escrever em público), acreditem mesmo em Durão Barroso nesta querela linguística do /Alcaida/ "versus" /Al-Qaéda/. Por isso, é só dar-lhe ouvidos...

Por José Manuel Matias/José Mário Costa

1. Na sequência do tenebroso atentado terrorista em Madrid, um consulente interrogou-nos sobre a pronúncia certa para o termo árabe al-Qaeda. Em Portugal, os jornais escrevem Al-Qaeda, que é a transliteração do vocábulo para o inglês – portanto, sem correspondência mínima com o nosso alfabeto. Desde quando se escreve, em português, “qa”?! Pior ainda: quem lê aquele Al-Qaeda inglesado nem ao menos toma em conta como os anglófonos pronunciam (bem) a palavra: o mais aproximadamente, afinal, da pronúncia original árabe. E é assim que ela deve ser pronunciada pelos lusófonos: /Alcaida/. E, como mandam as regras, a sua ortografia também não deverá ir ao arrepio da índole da língua portuguesa. Consultados quatro especialistas, propomos a forma Alcaida.

2. A propósito de lusofalantes. Da Galiza chegou-nos uma consulta que vale pela mensagem de quem se apresenta como «parte da lusofonia, em pé de igualdade com as outras variantes do português (Portugal, Brasil, etc.), e não como língua diferente do português.» Às vezes, é bom recordar que a Galiza e a região Norte de Portugal são a mãe de todas as lusofonias.

3. O Benfica, o clube que mais portugueses une em Portugal e por esse mundo fora, acaba de comemorar o seu centenário. Foi esse o pretexto para a dúvida de um consulente de Lisboa, benfiquista naturalmente, sobre a forma exacta da frase latina que encabeça o emblema do clube da águia: «E pluribus unum» ou «Et pluribus unum»?

Por José Manuel Matias/José Mário Costa

A propósito da praga de “prontos”, que prolifera no discurso televisivo em Portugal, e da responsabilidade muitas das vezes de quem tem obrigações exactamente em sentido inverso, o autor da resposta, A. Tavares Louro, recorreu muito apropriadamente ao termo psitacismo. Nem de propósito, com tantas frases, e situações, sem sentido que se vêem, lêem e ouvem por aí, nestes fatídicos dias que correm…