De visita a Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor e Prémio Nobel da Paz, José Ramos Horta, deu uma longa entrevista à revista de assuntos internacionais “O Mundo em Português”, onde abordou a questão da Língua Portuguesa no seu país.
Destas declarações de Ramos Horta, sublinhe-se o seguinte:
1) O empenho diplomático de Portugal durante três décadas pela causa de Timor foi uma grande vitória moral, tornou possível o aparecimento de um espaço lusófono na Ásia e tornou ainda possível que a liderança política timorense reintroduzisse o português como uma das duas línguas oficiais do novo país;
2) Não foi uma decisão fácil;
3) Apesar da autoridade moral da acção de Portugal, houve uma enorme resistência por parte da anglofonia (uma referência não explícita à Austrália) e da nova geração timorense que fez cursos universitários na Indonésia, dominando por consequência o bahasa e o inglês;
4) Esta corrente timorense não teve coragem de defender o bahasa como língua oficial, mas bateu-se para que o tétum fosse a única língua oficial;
5) Se tal acontecesse, o inglês entraria subtilmente e acabaria por eliminar os últimos vestígios do português em Timor.
Declarações importantes, estas, de José Ramos Horta. Resta só saber se as autoridades portuguesas vocacionadas para a difusão e promoção do português no estrangeiro estão conscientes de que a adopção da Língua Portuguesa como língua oficial de Timor não preserva unicamente a identidade histórica e cultural dos timorenses; garante-lhes igualmente a memória histórica de Portugal, que eles tanto cultivam.
Porque a verdade é esta: sem a ajuda de Portugal, material mas acima de tudo em recursos humanos, a afirmação em Timor da língua de Camões, Craveirinha e Jorge Amado não passará de um sonho de Ramos Horta e seus companheiros que alcançaram a independência depois de quase 30 anos tão sofridos. Deles e de todos os lusófonos.
P.S. – Está-se a escrever e a falar cada vez mais desleixadamente nos órgãos de comunicação social portugueses? Se avaliarmos pelo que damos conta no Pelourinho, no Correio e por uma série de perguntas-protesto mais recentes sobre o tema, apetece glosar como na política: o que parece é...
Devido ao feriado nacional de 10 de Junho, em Portugal, Ciberdúvidas antecipa o fim-de-semana, regressando só na próxima segunda-feira, dia 14, com as suas actualizações diárias. Voltaremos, então, a responder a todas as dúvidas de todos os que querem saber mais sobre a língua portuguesa. Aproveitamos para renovar o pedido aqui deixado expresso há uma semana: importa confirmar, sempre, previamente, no pesquisador, se a pergunta não se encontra já esclarecida (e, portanto, permanentemente em linha nas Respostas Anteriores ou nas restantes nove áreas temáticas do Ciberdúvidas).
Em linha, e a propósito justamente do 10 de Junho, fica, entretanto, a partir desta data, o texto O Dia da Língua do jornalista português Carlos Magno. Pelo que propõe, não deixará de interessar todos os lusófonos e, em particular, os portugueses que prezam a sua língua.
Um grande número de perguntas já respondidas no Ciberdúvidas, e não raro até várias vezes, continua a chegar-nos diariamente. É regra do Ciberdúvidas não deixar de responder individualmente a esses seus consulentes, lembrando-lhes o procedimento prévio que vem resumido no texto, que mantemos permanentemente em baixo, Veja nas Respostas Anteriores.
É o que voltamos a repetir, aqui e agora: antes de nos remeter qualquer pergunta, prezado consulente, procure no motor de busca se a dúvida não se encontra já esclarecida entre as cerca de 14 mil respostas e outros textos que, à data, constam do arquivo do Ciberdúvidas. Basta colocar no re(c)tangulozinho da primeira página, logo a seguir aos destaques do dia, a palavra, expressão ou o tema pretendidos: pontuação, pronúncia, preposição, pronome, colectivo, diminutivo, etc.,etc., etc. E atenção à indispensabilidade do nome e apelido, a profissão, se possível, e a cidade ou país de onde se está a aceder ao Ciberdúvidas…
... E bem hajam todos os que querem saber sempre mais sobre esta nossa «língua de oito pátrias»!
Acaba de ser lançado em Lisboa o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, uma edição de assinalável fôlego linguístico no panorama editorial português, sob a chancela da Porto Editora. Durante dois anos, e com a utilização das mais avançadas tecnologias, a vasta equipa de lexicógrafos e consultores da Porto Editora desenvolveu um imenso esforço no sentido de incluir, num só volume, o maior número de palavras, bem como de privilegiar o tratamento exaustivo e rigoroso de cada uma delas. Uma particularidade é o registo de várias pronúncias por cada vocábulo referente às diversas áreas da actividade humana e às inúmeras variantes regionais e nacionais do espaço lusófono, desde os regionalismos aos brasileirismos e africanismos, bem como a indicação das siglas e abreviaturas cada vez mais utilizadas no nosso quotidiano.
Depois das edições da Academia das Ciências de Lisboa, Houaiss e Aurélio Século XXI, ficamos todos ainda mais enriquecidos com outro grande, de facto, dicionário da Língua Portuguesa.
O disparate do benvindo a fazer de bem-vindo voltou a fazer das suas, agora em forma de cartazes colocados pela Câmara Municipal [prefeitura] de Lisboa dando as boas-vindas aos visitantes do Euro 2004. O que vale é que, desta vez, nem as televisões – e, em particular, a pública RTP, honrando ao menos uma vez as suas obrigações estatutárias – deixaram de o assinalar, confrontando o próprio presidente alfacinha com o mamarracho ortográfico. O dr. Pedro Santana Lopes escusava é de se ter agastado tanto com a repercussão mediática de um erro que, de facto, já assume foros de cidadania... Bastava só pedir a um qualquer sr. Benvindo da capital portuguesa que participasse numa sessão pública de cumprimentos aos primeiros adeptos [torcedores] estrangeiros de futebol que chegam por estes dias a Portugal. Quem, assim, não se sentiria ainda mais bem-vindo ao país destas e de tantas outras subtilezas linguísticas?...
Cf. O anómalo Kinas e o desnecessário "newsletter" + Serão mesmo portugueses os estádios para o Euro 2004?
Muitas e diversificadas perguntas chegaram na semana ora finda ao Ciberdúvidas sobre palavras não dicionarizadas, mas de uso corrente (cinotécnica, por exemplo). Ou só registadas nos dicionários mais antigos ou mais especializados (casos de mistagogia, de falécio, de jardineto ou de pertencimento). Ou sobre novos termos de fixação ainda duvidosa (legendador ou “legendário”?). Ou, ainda, de controversa aceitação (vide Sobre o termo pidgin + Prioridade, prioritário e derivados mal formados + O “evolutível” e outros desnecessários francesismos). Mas houve também perguntas a que não foi possível dar resposta, dada a sua descontextualização. Por isso, voltamos a pedir a quantos nos consultam: para nos podermos pronunciar com segurança sobre o significado preciso ou a correcta ortografia de vocábulos ou expressões de uso mais restrito, é indispensável a transcrição da frase (de preferência, até, da origem) onde elas se leram ou ouviram.
1. «Os responsáveis dos programas [do ensino do Português nas escolas secundárias em Portugal] são linguistas e os linguistas têm ódio à literatura. Esse é o principal problema. Preocupam-se com a questão comunicacional e não com o valor da própria língua.» – declarou o poeta e eurodeputado Vasco Graça Moura, em entrevista à revista dominical do “Público”. «Os linguistas discordam, isso sim, da posição de que o ensino do português se deve reduzir à leitura de textos literários. (…) Esta discordância (…) radica no conhecimento dos milhares de páginas publicadas de resultados de investigação desenvolvida nos países do "pelotão da frente", a que queremos pertencer», respondeu a linguista Inês Duarte, no semanário “Expresso”, cujas páginas – mais propriamente do caderno “Actual” – acolheram uma série de outros seis textos, deles e de três outros intervenientes, numa polémica como há muito não se lia em Portugal. O tema em si e a qualidade intelectual dos envolvidos não deixarão de interessar a quantos consultam o Ciberdúvidas para saber sempre mais sobre o nosso idioma comum.
2. A resposta a uma pergunta sobre o plural de “stand” e o respectivo aportuguesamento proposto pelo Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea fez-nos regressar entretanto a uma outra controvérsia antiga. Cf. O positivo e o negativo no Dicionário da Academia + Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa + Os méritos do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa. Que outra língua no mundo estimula assim tão amplo e permanente debate?
A propósito do aumentativo de jardim, do diminutivo de som, do adjectivo irrepetível e do substantivo apropriabilidade – qualquer deles ainda sem consagração nos dicionários – falámos de novo de uma das cara(c)terísticas da língua portuguesa: a sua espantosa maleabilidade. Mas falámos, também, de palavras mal dicionarizadas, como é o caso desse aberrante “stande”. Ou, ainda, de outras menos conhecidas como foleca, distopia ou assertoar. E até houve oportunidade de voltarmos a uma questão várias vezes respondida aqui no Ciberdúvidas: quantas palavras tem uma língua de cultura, como a nossa? E devemos dizer «Mandou-o fazer...» ou «mandou-lhe fazer...»? Finalmente: por que razão o pronome se se antepõe à forma verbal sempre que introduzida ou precedida de que?
Até para a semana!
Os 30 anos do 25 de Abril, que se comemoram em Portugal, assinalam, jubilosamente, o colapso de uma ditadura de meio século e o fim de uma guerra colonial injusta e anacrónica. E não só.
A “Revolução dos Cravos”, como ficou para a História essa madrugada libertadora de 1974, não trouxe apenas a democracia para os portugueses e a outorga da independência para Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe (Timor, desgraçadamente, teve de suportar a invasão e a ocupação indonésia até 1999). Representou também uma outra liberdade para a língua portuguesa, deixando-lhe marcas profundíssimas, como assinalou no ano passado para o Ciberdúvidas a linguista Margarita Correia, no texto O 25 de Abril no léxico português, cuja (re)leitura aconselhamos vivamente.
Com o 25 de Abril, há 30 anos, a censura foi abolida em Portugal e extinta a PIDE/DGS, a polícia política que perseguia, prendia, torturava e matava os portugueses e africanos que pensavam politicamente de forma diferente. A torrente caudalosa que brotou do 25 de Abril desagrilhoou também a língua. Novas palavras, novas expressões, novas siglas e novos conceitos irromperam por todo o lado e em toda a parte. As livrarias encheram-se de traduções de grandes escritores até aí lidos apenas por uma elite mais viajada, tendo passado a ser traduzidos livremente em português autores tão distintos como Paul Celan, Henry Miller, Vladimir Nobokov, Simone de Beauvoir ou Jean-Paul Sartre.
Muitos e novos escritores, de Portugal a Timor, de Mário de Carvalho a Pepetela ou Mia Couto, enriqueceram ainda mais a «chama plural» que é esta nossa «língua de oito pátrias», na feliz expressão de João Carreira Bom.
Graças ao 25 de Abril, partilhamos hoje uma língua em oito países independentes, mais pujante que nunca. Esta é a língua de trabalho de doze organizações internacionais, elo de ligação de 200 milhões de seres humanos, espalhados pelos cinco continentes.
Por tudo isto, festejemos os 30 anos do 25 de Abril.
Por que motivo, em Portugal, há clubes de futebol que passaram a ser nomeados no feminino, quando, antes, a União de Leiria ou a Naval da Figueira da Foz, por exemplo, vinham sempre no masculino (o Leiria, o Naval)? E no Brasil: é o Palmeiras ou a [Sociedade Esportiva] Palmeiras? Já agora: que regras gramaticais regem o emprego do artigo definido antes dos dias da semana? E é «Ele faz com cada pergunta» ou «Ele faz cá cada pergunta»? Ainda: é «sair de trás, «sair detrás» ou «sair de detrás»? Ou ainda: Qatar não deverá ser, antes, Catar, em português?
Disto e de muito mais se fez uma nova semana de Ciberdúvidas.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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