A escrita dá forma gráfica às palavras, procurando representar o mais fielmente possível as particularidades dos sons da fala, da pronúncia de cada fonema. No entanto, nem sempre se torna claro o modo correto de se pronunciar certas palavras a partir da sua grafia. É o que sucede, por exemplo, com a pronúncia de palavras de origem estrangeira (Ivens =”ivens”, "aivães", aivẽis" ou "áiveneze"?). Por isso, a acentuação gráfica tenta materializar as caraterísticas das sílabas tónicas, marca de diferença de outras palavras idênticas (condição impeditiva para a homografia?). Como elemento distintivo da pronúncia, em que medida é que o Acordo Ortográfico introduziu alterações à acentuação gráfica?
O que significa «ópio social»? E qual a diferença entre recensão e análise críticas? Semana, horas e minutos são coletivos? É de regra flexionar-se qualquer adjetivo que ocorra numa expressão com um nome? Do valor de uma metáfora que se vulgarizou à especificidade de conceitos de natureza prática, perguntas que requerem o estudo da relação entre o léxico, a semântica e a morfologia.
Há muitas frases em que o pronome quem faz parte do sujeito, colocando questões não só a nível da pontuação como também da sua análise sintática. Assim, a sintaxe marca também presença nas respostas da atualização do consultório.
As respostas deste dia giram à roda da reflexão sobre a construção dos enunciados, o que conduz, impreterivelmente, ao universo da sintaxe. Área complexa da linguística que a muitos pode parecer um mundo restrito aos especialistas, a realidade é que a sintaxe não sobrevive sem os mais simples discursos de todos nós.
Muitas são as questões que se podem levantar, sobretudo, a nível da clareza de uma frase, devido à ausência do paralelismo sintático, à hesitação no domínio da concordância numa frase com predicado nominal… Importa entrar-se na especificidade da análise sintática, tendo em conta diferentes sentidos do verbo, para se verificar a possibilidade de novas leituras sobre a função de uma determinada estrutura e para nos apercebermos de que não é possível a separação dos constituintes de cuja união resultou um novo conceito, como é o caso de do constituinte preposicionado «na praia».
Intimamente ligada à semântica e à morfologia, a sintaxe não descura a atualização da terminologia linguística (como, por exemplo, dos conetores), para que daí resulte a classificação correta das frases e orações.
Presa, pressa e prensa são três palavras, simultaneamente, distintas e idênticas. De valor e pronúncia diversos, têm em comum praticamente o mesmo conjunto gráfico, sobressaindo o peso do uso do s, simples ou dobrado. Em que regras nos podemos apoiar para sabermos quando usar um s e os ss (dobrados)? Terá havido alterações com o Acordo Ortográfico em palavras que se escreviam só com um s?
Penetrar na complexidade da análise sintática implica uma reflexão sobre os possíveis sentidos das construções, estabelecer-se relações entre as situações semelhantes e de contraste, para que se possa chegar a conclusões. É este o caso da análise da frase lapidar «A vida é muito curta para ser pequena».
«Quando os políticos abusam, o povo levanta-se», uma outra frase forte, carregada da assertividade emotiva das certezas absolutas. A única dúvida que ocorre é a da posição do pronome, tema frequente que é objeto de outras duas respostas: a das particularidades da colocação dos pronomes no Brasil, e a da (a)gramaticalidade de uma frase em que a repetição de sons — «Fi-lo» e «qui-lo» — provoca estranheza.
Adotar uma palavra para a usar por tudo ou por nada tornou-se prática corrente. É o caso do emprego do termo tipo («tipo assim…»), cujo sentido se vai esbatendo no discurso do quotidiano.
De qualquer modo, a precisão do léxico é um bem que a grande maioria procura, para que não haja hipótese de má interpretação. Por isso, importa conhecer a diferença entre enterro e sepultamento, o nome exato dos adeptos de um clube angolano, a flexão dos epicenos, os coletivos das palavras mais simples, assim como a identificação, a formação e o valor dos diminutivos. Ao fim e ao cabo, tudo isto implica saber-se, também, as relações entre as palavras. Questões aparentemente simples, mas que requerem o crivo da precisão linguística.Pode pensar-se que basta usar-se um bom dicionário para se fazer a tradução certa. Se assim fosse, que sentido teria a especialização na área de tradução? Traduzir implica, essencialmente, ter-se o domínio da língua materna e o da estrangeira, conhecer-se as matizes do vocabulário de cada situação, aplicar-se o léxico adequado a cada realidade. Embora o uso do inglês se tenha vindo a disseminar em quase todas as áreas, a verdade é que muitos falantes querem continuar a usar a sua língua, a oficial e materna, mesmo que isso implique dificuldades, sobretudo, no meio técnico. «Não consigo encontrar um boa tradução para a expressão «to be supported» em termos de tecnologia», «Como traduzir termos ingleses cujos signos não se encontram registados nos dicionários de Português? E quando, num portal de língua portuguesa, ocorre uma funcionalidade designada com um galicismo?
Dúvidas sobre topónimos — a etimologia e o uso da preposição em com ou sem artigo a preceder o nome de uma freguesia — e os apelidos (antropónimos), assim como o emprego de maiúscula ou minúscula após os sinais de pontuação são outros dos temas das respostas deste dia.
Surdos e pessoas com deficiência auditiva passaram a poder utilizar o telemóvel em Portugal, graças a um serviço em Língua Gestual Portuguesa promovido pela Vodafone, pela primeira vez no país. Notícia mais desenvolvida aqui. Veja-se, também, o vídeo com a notícia do jornal "Público".
Deve dizer-se/escrever-se desta, ou daquela forma? Coloca-se o pronome antes, ou depois do verbo (auxiliar ou principal)? Qual das preposições é mais correta nesta frase? Que conetores podem ocorrer em estruturas com enumeração? Esta palavra é masculina, ou feminina? É possível fazer-se a flexão de uma moeda? Tal substantivo/nome é sobrecomum, ou comum de dois géneros?
As alternativas colocadas nas perguntas que nos são apresentadas — objeto das respostas deste dia — revelam a incessante busca dos falantes pela forma perfeita, sem mácula, marca de domínio da língua.
«Pode-se usar dois-pontos dentro de dois-pontos? Por exemplo, em A Cidade e as Serras (edição da Livros do Brasil, p. 143), há a seguinte frase: «Estava precioso: tinha fígado e tinha moela: o seu perfume enternecia: três vezes, fervorosamente, ataquei aquele caldo.”» É recomendável este uso invulgar do sinal de pontuação? Ou estará circunscrito a alguma escrita literária? Tema nada consensual, merece duas análises — Ao arrepio da norma e Uma possibilidade estilística do código literário — colocadas em O Nosso Idioma.
Outras áreas linguísticas das respostas deste dia: a concordância, as especificidades da regência dos verbos e a consequente sintaxe, o valor das palavras e estruturas idênticas no discurso e as particularidades do uso da pontuação – da vírgula e do travessão.
«[...] é o verbo que faz mover
o discurso, dando à existência a sua qualidade
activa, e transformando-a no ser idêntico
que reúne em cada sujeito e estado, sem
distinguir uma ideia de outra. Porém, a
conjugação dos tempos e modos multiplica
o que dizemos por nós, por vós e por eles,
desde o passado ao futuro;»
Consciente do peso do verbo no nosso discurso, o poeta português Nuno Júdice dá-lhe o estatuto de tema poético em Gramática: o verbo.
Não fazer a conjugação correta do verbo em qualquer tipo de discurso gera situações bastante constrangedoras por que ninguém deseja passar. Área tantas vezes negligenciada, porque se criou o hábito de se confiar plenamente no saber intuitivo da língua, a realidade é que a mínima falha, ou mesmo indecisão, na flexão verbal — quer se trate de um complexo verbo defetivo ou de um irregular, de um impessoal ou, mesmo, de um regular — compromete irremediavelmente o seu emissor, sendo (quase) considerado como fatal não se saber fazer o uso adequado das formas verbais. Intrinsecamente ligada aos verbos, a colocação dos pronomes (enclítica ou proclítica) tem-se revelado como outra dúvida recorrente, assim como a preocupação em se distinguir o valor exato de cada palavra, sobretudo se se trata de casos cuja sintaxe implica a ocorrência de preposições (regências).
Estes são os temas das respostas deste dia, em que se destaca, também, a análise do processo de formação de palavras.
Muitos nomes de animais e de plantas são palavras compostas, ricas e sugestivas, frequentemente ligadas por preposição ou outro elemento. À composição está intimamente ligada a ideia de representar a singularidade de cada ser na imensidade das espécies botânicas e zoológicas: campainhas-amarelas, fava-de-água, borboleta-azul-das-turfeiras, pica-pau, pica-pau-amarelo, pica-pau-de-penacho, pica-pau-de-bico-comprido, pica-pau-de-barriga-vermelha, formiga-branca, amor-perfeito… Terá a sua grafia mudado com o Acordo Ortográfico? Ou mantém-se fiel à norma de 1945? Quando se faz a hifenização? Como se distinguem os casos de aglutinação e de separação dos elementos de qualquer composto, locução ou encadeamento vocabular? E em que situação fica a grafia das palavras derivadas? Tantas questões relativas à nova grafia, o tema privilegiado da atualização do consultório, que se dedica, também, a questões da sintaxe.
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