1. A ortografia é um código desenvolvido por uma comunidade com a finalidade de permitir registos escritos, de vária ordem, que possam ser lidos e compreendidos por todos os que aprenderam as suas regras e dominam a língua que os alimenta. A própria formação da palavra aponta para a normatividade: ortografia vem do grego, resultando da junção de orthós, que significa «correto», e graphê, que significa «escrita». As normas ortográficas são ensinadas no momento da aprendizagem da escrita, o que constitui um processo muito relevante nos primeiros anos de escolaridade. Não obstante, este percurso de aprendizagem da grafia das palavras vai ocorrendo em todas as fases da vida, sempre que o sujeito escrevente se depara com uma palavra nova ou com uma palavra cuja forma desconhecia. É certo também que tanto as dúvidas quanto as aprendizagens erradas são responsáveis por incorreções ortográficas que, com o auge das redes sociais, se vão disseminando, chegando a muitos falantes e, por vezes, instalando a dúvida. Entre os erros, encontramos aqueles que têm uma natureza fonética relacionada com a imagem visual da palavra, de que é exemplo a confusão entre viagem, nome, e viajem, forma verbal. A forma como se perceciona o som de uma palavra dá igualmente origem a erros, pois, em determinados vocábulos, há sons cuja articulação não corresponde ao grafema, o que se ilustra com os seguintes pares que evidenciam, respetivamente, o distanciamento entre a forma como alguns falantes pronunciam a palavra e a grafia desta: "elações" vs. ilações; "iminência" vs. eminência; "riu" vs. rio; "ilegível" vs. elegível ou "pião" vs. peão. Outros problemas ortográficos relacionam-se com uma aprendizagem deficitária da morfologia verbal, tal como ilustra a flutuação muito frequente na grafia da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo: "entras-te" vs. entraste. Encontramos também erros de natureza mais complexa, que estão relacionados com a forma como se identifica a palavra e a sua classe ou função (como acontece na confusão entre haver e «a ver»). Apontamos também dificuldades na individualização lexical, que permite estabelecer a fronteira entre as palavras, o que se observa nas hesitações entre senão e «se não» ou entre enfim e «em fim». As dúvidas no campo da ortografia são diversas e, não raro, ditam a persistência do erro, uma situação que deve ser combatida pelo contributo da consciencialização. Por esta razão, este ano, o Ciberdúvidas decidiu dedicar a rubrica Dúvida do Ano às questões ortográficas. Apresentam-se os 10 erros frequentes analisados atrás e solicita-se aos nossos consulentes e seguidores que procedam à votação para seleção da Dúvida do Ano de 2024, indicando qual o erro com que mais frequentemente se deparam nos textos que leem. A votação decorrerá até ao dia 3 de janeiro e os resultados serão anunciados no dia 7 de janeiro.
2. Na área lexical, a Porto Editora lança também a votação para a eleição da Palavra do Ano. A palavra de 2024 será escolhida entre os seguintes vocábulos, que se destacaram ao longo do ano: auricular, conflitos, fogos, imigração, inclusão, INEM, jovem, liberdade, polícia e transportes.
3. A natureza do pronome se em construções como «Aqui vive-se bem» oferece, não raro, dúvidas na sua interpretação, as quais poderão tornar-se ainda mais complexas quando se considera a alternância entre «elogia-se os alunos» e «elogiam-se os alunos». Na atualização do Consultório, esta é uma questão que, mais uma vez, se aborda, considerando igualmente a natureza dos verbos intransitivos. Poderão ainda ser consultadas as respostas relacionadas com os seguintes aspetos da gramática: «Verbos pronominais essenciais»; «Substantivo relacionado com insosso»; «Aeroportos e nomes próprios de pessoa»; ««Dar medo», «fazer medo», «meter medo»»; «A sintaxe de «abrir alas»»; «Frases interrogativas e modo nas orações subordinadas» e «Demonstrativos e apresentações».
4. A natureza da expressão «ora essa» é o assunto central do apontamento desta semana da professora Carla Marques, uma rubrica divulgada no programa Páginas de Português, na Antena 2 (em 1 de dezembro de 2024).
5. Poderá a Inteligência Artificial influenciar o discurso dos humanos? A questão, que poderia parecer do domínio da ficção científica até há bem pouco tempo, parece ter passado para o domínio da realidade, tal como o comprova a investigação do professor catedrático espanhol Ezequiel López, que concluiu que os humanos usam palavras que recolheram de textos do ChatGPT, uma pesquisa que adiantou ainda que a «inteligência coletiva, tal como a entendemos, está em perigo se começarmos a usar a IA de forma massificada». Os resultados da investigação poderão ser avaliados no artigo de divulgação científica que, com a devida vénia, traduzimos do espanhol (originalmente publicado no jornal El País).
6. Entre os acontecimentos de relevo, destacamos:
– A aprovação, pela Assembleia da República, de uma dotação de 500 mil euros para promoção da língua mirandesa;
– A proposta de Macau para a inclusão de uma dança folclórica portuguesa na Lista do Património Intangível do território, uma lista que, em 2019, passou a incluir o teatro em patuá, o dialeto crioulo da comunidade.