A sua questão levanta vários problemas, que passo a tratar independentemente:
Rebelo Gonçalves
Foi um dos mais representativos linguistas portugueses do século passado. Colaborou na Reforma de 1911, publicou o «Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa» e o, citado por si, «Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa», uma obra muito completa para a altura, que tem servido de referência.
Ora é preciso não esquecer que já Saussure lembrava que a língua tem a virtualidade de fazer a simbiose entre a conservação do passado e a mudança com o tempo. Algumas das recomendações de Rebelo Gonçalves já não são válidas nos nossos dias (o Vocabulário data de 1967...). A verdade é que a palavra demais adquiriu em Portugal esse outro valor semântico.
Brasileirismos
Nós em Ciberdúvidas não usamos este termo, que tem conotações pejorativas em relação a uma pretensa vernaculidade lusa. Preferimos dizer legítimas variantes brasileiras da `comum língua´, como dizemos legítimas variantes nortenhas, insulares, etc.
Temos de aceitar que no Brasil há linguistas que dominam a `comum língua´ com grande profundidade. Muitas das suas soluções são mesmo preferíveis às preconizadas por linguistas portugueses. E se isto o escandaliza, medite, por exemplo, no termo *toilete pronunciado ¦tuᦠque aparece no Dicionário da nossa Academia como palavra do léxico, e compare com o termo toalete recomendado pela Academia brasileira...
O sentido de excessivamente, dado a demais pelo Brasil, pode considerar-se uma variante legítima, num critério universal de considerar a língua, como fazemos em Ciberdúvidas.
Demais
Podia ficar pelas duas conclusões das alíneas atrás. Vou, porém, mais longe. Demais aplica-se tradicionalmente nas acepções de `além disso´ e `outro/as´ (ex.: `demais a mais´, `os demais alunos´) e `de mais´ opõe-se a `de menos´. Pois bem, parece-me até preferível usar demais como quantificador quando empregar `de menos´ não faz sentido (ex.: `é pobre demais´, porque não se diz `é pobre de menos´).
Ao seu dispor,