A criação literária não significa que não se use outros textos como referência. Aliás, isso é uma marca de cultura do escritor. Penso que o termo literário para esse fenómeno é o de intertextualidade, fenómeno esse que chega mesmo a ser defendido por alguns críticos literários como Riffaterre «como fundamento da textualidade» («a teoria da intertextualidade como fundamento da textualidade – o texto literário derivaria por expansão de uma única frase matricial»).
No entanto, esse modelo literário proposto por Riffaterre não tem a aprovação de Vítor Manuel Aguiar e Silva, que, em Teoria da Literatura, se manifesta dizendo: «Nesta perspectiva, a intertextualidade é que funda e orienta a textualidade, os textos literários têm como referentes outros textos literários, estando sobredeterminados, na sua génese, no seu desenvolvimento e na sua decodificação, por outras estruturas textuais. A literatura torna-se assim uma espécie de “monstro” borgesiano, produzida por “raros”, detentores do privilégio de poderem rastrear o intertexto gerador e fundamentante do texto sob leitura.»
De qualquer modo, o importante será verificar se o texto produzido, recorrendo à intertextualidade ou não, tem as marcas do texto literário, que se podem retirar da seguinte definição de Aguiar e Silva: «consideramos o texto literário como um mecanismo semiótico que, em virtude das características da sua forma de expressão, da sua forma de conteúdo e do seu estatuto comunicacional, apresenta estruturas semânticas peculiares e tem a capacidade de produzir no processo de leitura, tanto sincrónica como diacronicamente, novos significados.»