A expressão «prazer dos sentidos» não é propriamente sinónima de «prazer sexual», mas é suscetível de ser utilizada como eufemismo para evitar a referência direta à vida sexual, assunto que até há algumas décadas e mesmo ainda hoje era ou é mais ou menos censurado. Mesmo assim, diga-se que a expressão «prazer dos sentidos» pode abranger outras experiências de prazer como as que proporcionam o gosto, o olfato ou a visão. Assinale-se também que o Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintático da Língua Portuguesa, de Énio Ramalho, regista uma expressão bastante aproximada – «entregar-se a prazeres» –, que parece ter forte conotação sexual, embora não possa ser entendida assim exclusivamente: «vivia uma vida de dissipação, entregando-se a prazeres que eram por vezes infames (abandonando-se a, deixando-se arrastar por)». Ou seja, tendo em conta que, historicamente, a sexualidade era uma esfera de referência sobre a qual recaíam numerosas interdições e tabus, havia (e continua a haver) toda uma forma oblíqua de lhe fazer alusão, sem a mencionar diretamente. Esta estratégia discursiva faz com que tal conotação acabe, por vezes, associada a outras significações que tornam difusa a referência de caráter sexual.