Sede e seda são formas que podem corresponder individualmente a duas palavras diferentes: sede = «vontade de beber» vs. sede = «lugar»; seda = «tipo de tecido» vs. seda «dá sedativo (forma de 3.ª pessoa do singular do verbo sedar).
A respeito do português europeu, eis as transcrições fonéticas pedidas (cf. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, e Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora):
sede «vontade/necessidade de beber» [ˈsedɨ]
sede «lugar» [ˈsɛdɨ]
seda «tipo de tecido» [ˈsedɐ]
Para a forma verbal seda, não há transcrição disponível, mas a abertura da vogal do radical por efeito da deslocação do acento nos verbos da 1.ª conjugação permite fazer a seguinte transcrição:
seda «forma do verbo sedar» [ˈsɛdɐ]
Os dicionários consultados apresentam o símbolo [d] para representar uma consoante intervocálica como oclusiva dental vozeada, mas é de notar que muitos falantes de Portugal produzem essa consoante entre vogais como uma fricativa interdental vozeada ([ð]: [ˈseðɨ], [ˈseðɐ]).
Quanto ao português do Brasil, o registo áudio disponível no Dicionário Aulete permite as seguintes transcrições:
sede [ˈsedƷi], sede [ˈsɛdƷi]
seda [ˈsedɐ], seda [ˈsɛdɐ]1
A sequência [dƷ] na transcrição de sede corresponde ao frequente fenómeno de palatalização2 das dentais quando em contacto com [i]. Não sendo generalizável a todo o Brasil, tal fenómeno costuma ser atribuído ao falar do Rio de Janeiro, embora possa detetar-se noutros falares do Brasil.3
1 Há certa variação na pronúncia do a final, sendo possível ocorrer um a aberto átono final: [ˈseda], [ˈsɛda] (informação de Luciano Eduardo de Oliveira).
2 Segundo o Dicionário Houaiss, a palatalização é o «ato ou efeito de palatalizar; iotização, palatização, abrandamento», tal como ocorre na «p[ronúncia] /t/ e do /d/> diante de [i] na fala carioca».
3 Do ponto de vista normativo, esta palatalização não é obrigatória, como aponta E. Bechara na sua Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 70):
«[...] As linguodentais /t/ e /d/ seguidas de i podem palatalizar-se: tinta e digno podem soar /txinta/ e /djigno/. Evite-se o exagero desta palatalizações.»
Sobre o padrão linguístico do Brasil, ver Textos Relacionados.