Fruto e palavra são os dois termos que sobressaem — e que são evidenciados pelo sujeito poético — neste excerto, antecipando-se à frase/ao verso com que estão relacionados, afirmando o seu valor como realidades determinantes para a concretização do «canto» e das «armas».
Por isso, para se identificar o significado deste «fruto», teremos de analisar o contexto em que se encontra. Ocorrendo num texto poético construído em torno do valor expressivo das mãos — enquanto símbolo de acção/actividade e de poder — e como metáfora (e sinédoque) do Homem, o termo fruto adquire, aqui, outros sentidos, mas que estarão sempre associados a algo positivo, a concretização, a realização, a prazer, a pluralidade de sensações aprazíveis (o paladar, o olfacto, a visão e o tacto), enfim, a algo que tenha o dom de se poder saborear.
De facto, e se colocarmos os versos na ordem directa — «E as mãos que são o canto e são as armas estão no fruto e na palavra» —, apercebemo-nos de que «fruto» e «palavra» são os dois elementos que estão subjacentes à criação de duas realidades antagónicas, mas igualmente poderosas — a do «canto» (positiva) e a das «armas (negativa)» —, símbolos do poder criador (a palavra) e destruidor (arma) do ser humano, os dois eixos que atravessam todo o poema As Mãos — paz/guerra (v. 1), faz/desfaz (v. 2), poema/guerra (vv. 3-4), farpas/harpas (vv. 9-11).
Portanto, nestes versos, o sujeito poético confronta-nos com a complexidade do ser humano, pois tanto as mãos que fazem o canto/poema como as que fazem as armas/a guerra («as mãos que são canto e são armas») também têm a arte de construir/produzir algo saboroso, misto de alimento e de prazer («fruto»), assim como de comunicar («palavra).