O «agente da passiva é o complemento que, na voz passiva com auxiliar, designa o ser que pratica a acção sofrida ou recebida pelo sujeito» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 148).
Analisando a frase que nos apresentou, verificamos que não há agente da passiva (explícito). Esta situação deve-se ao facto de aí se ter como referência uma situação de tempestade, o que torna desnecessária a verbalização dos agentes que provocaram a acção sobre os carros. Tratando-se de uma notícia, torna-se redundante enunciar ou enumerar os elementos/fenómenos naturais causadores do arrastamento dos carros, porque estes são do conhecimento do público. Ora, não havendo agente da passiva (mesmo que este esteja implícito), torna-se inviável passar essa frase para a voz activa, embora não haja dúvida de que se trata de uma frase passiva. Como poderíamos construir uma frase activa, a partir desta, se não "temos" sujeito para ela?
No entanto, a frase «Durante a tempestade, muitos carros foram arrastados» está correcta e completa, não se sentindo necessidade da especificação do agente da passiva (se há tempestade, quem arrastou os carros foram os elementos da natureza que provocaram a tempestade — chuvas torrenciais, ventos fortes, caudal dos rios…). Decerto que ficaria muito estranha uma notícia como «Durante a tempestade, muitos carros foram arrastados pelas águas das chuvas/pela chuvas torrenciais, pelo caudal das águas». Mas, formulada desta forma, poderia passar-se a frase para a activa: «As águas das chuvas/as chuvas torrenciais/o caudal das águas arrastaram/arrastou muitos carros, durante a tempestade.»
De qualquer modo, apercebemo-nos de que o objectivo do enunciado que nos apresentou é o de fazer sobressair a acção sofrida pelo sujeito, e não quem a praticou (porque está implícito), a voz passiva surge como a construção lógica desta frase.
Obs.: Pelo facto de se evidenciar o estado (como resultado de algo) do sujeito, poderíamos ter a tentação de considerar que se tratava de um caso de passiva adjectival, «também denominada[s] passiva[s] de estado ou passivas[s] resultativa[s]» (Maria Helena Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, 5.ª ed., Lisboa, Caminho, 2003, p. 533), pois este tipo de passivas «focaliza o estado resultante da transição sofrida» (idem, p. 535). Mas a realidade é que, nesta frase, a forma participal («arrastados») não é de natureza adjectival e, por isso, «não admite formas participais derivadas de verbos inacusativos» (idem, p. 534), colocando-se, portanto, no grupo das passivas sintácticas.