DÚVIDAS

A expressão preposicional «para com o amigo»

Não consigo entender o que levou os doutores A. Tavares Louro e Carlos Rocha a dizerem que não há função sintática em «para com o amigo», no período proposto pela consulente Maria Silva (25/09/2007) ou, palavras deles: «Não há um termo tradicional corrente para classificar este constituinte: trata-se de um complemento circunstancial, que "pode ser" [destaque meu] de fim ou, como propõe José Neves Henriques, de referência ou relatividade». A oração «Ele é simpático para com o amigo» é sintaticamente analisada da seguinte forma (desde sempre): «Ele» (sujeito); «é» (verbo de ligação); «simpático» (predicativo do sujeito); «para com o amigo» (complemento nominal). Detalhe: a própria regência nominal do adjetivo simpático projeta argumento com a possibilidade de locução prepositiva «para com», o que confirma que «para com o amigo» é, de fato, um complemento nominal.

Estou muito surpreso, pois envio perguntas com freqüência e geralmente recebo respostas apropriadas. Gostaria de uma resposta de vocês quanto à verdade da análise sintática da oração proposta.

Resposta

Agradecemos a sua valiosa colaboração nesta questão. Na resposta em causa faltou esclarecer que nos referíamos à terminologia tradicional portuguesa, tal como ela se encontra exposta na Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967. De qualquer modo, os comentários do consulente foram tidos em conta, permitindo-nos alterar a passagem citada, sobretudo porque não queríamos dizer que não houvesse função sintáctica para tal constituinte.

Em relação à Nomenclatura Gramatical Brasileira de 1959, a terminologia tradicional empregada em Portugal distingue-se pelo facto de não considerar a diferença entre adjunto adverbial e complemento nominal. Deste modo, as expressões adverbiais sublinhadas em (1) e (2) são ambas classificadas como complementos circunstanciais:

(1) «As fotocópias estão prontas na sexta-feira.»

(2) «Este empregado é pronto no serviço.»

Na Nova Gramática do Português Contemporâneo, que Celso Cunha e Lindley Cintra publicaram em 1984, já se propunha a distinção que é corrente no Brasil. Mais recentemente, na nova terminologia linguística que se procura implantar em Portugal desde 2004 — referimo-nos à Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, conhecida por TLEBS —, distingue-se modificador de complemento, sendo o primeiro equivalente ao termo adjunto (adnominal ou adverbial) e o segundo, ao complemento (nominal ou verbal), na terminologia brasileira. Neste momento, a TLEBS encontra-se em revisão, pelo que não se confirma que a referida distinção passe a fazer parte da terminologia gramatical usada em Portugal.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa