Imaginação pertence à mesma família de palavras que imagem, mas entre elas a relação não é directa, havendo a intervenção de factores históricos. Assim, pode-se dizer que imaginação deriva do verbo imaginar, mas já é mais difícil, dentro das regras actuais e produtivas para os falantes de português, dizer que imaginar derive directamente de imagem. Além disso, o sentido de imaginar não é só, nem mais tipicamente, o de «criar imagens»; é antes o de «fantasiar», «supor», «criar mentalmente uma situação, uma entidade ou um acontecimento que não são reais». Deste modo, é necessário ir buscar tal relação à etimologia.
Imaginar deriva não directamente de imagem, mas da sua forma latina ‘imagine’. Esta corresponde ao caso acusativo de ‘imago, -inis’, nome formado pelo radical. ‘*im-‘, que ocorre também no verbo latino ‘imitor,aris,atus sum,ari’, «procurar reproduzir a imagem, imitar, arremedar, modelar-se por, copiar, trasladar, assemelhar-se a; contrafazer, simular, fingir, falsificar» (ver Dicionário Eletrônico Houaiss).
Por outro lado, é necessário perceber que o termo gramatical família de palavras foi usado durante muito tempo em Portugal para designar o conjunto das palavras que têm em comum uma mesma palavra primitiva, tanto no âmbito de uma dada língua, como no da relação histórica entre línguas. No Compêndio de Gramática Portuguesa, de Nunes de Figueiredo e Gomes Ferreira (Porto Editora, s. d., pág. 316) explica-se que injusto, ajustar, reajustar e justiça são palavras da mesma família, porque todas se formam da mesma palavra primitiva, justo. Na mesma gramática, alarga-se a família de palavras às relações etimológicas, o que permite acrescentar à família de justo os vocábulos jura e juramento, uma vez que derivam da mesma raiz latina ‘jus-‘, na qual se rotacizava o som final na flexão, isto é, o som [s] passava a [r].
Esta classificação de família de palavras parece-me ainda válida, pelo menos, para certo nível de descrição e de ensino/aprendizagem, mas também se usam os termos campo lexical e campo semântico. Cumpre observar que os linguistas nem sempre coincidem quanto à diferença que existe entre os dois tipos de campo vocabular. No entanto, e procurando simplificar, dir-se-á que a noção de campo lexical é a que é mais próxima da de família de palavras, reservando-se campo semântico para o conjunto de palavras que se relacionam através de um dado conceito (por exemplo, o campo semântico dos sentimentos: alegria, raiva, desespero, etc.).