Uma pergunta muito simples que recebemos uma vez no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa foi esta: «O que é a globalização?» Na resposta dada diz-se que é o acto ou efeito de globalizar e que, em Economia é, basicamente, o processo de eliminação das restrições estatais aos intercâmbios entre fronteiras.
Esta semana, o papa falou de globalização na homília da missa do Dia de Reis. Considerou-a «uma névoa que cega as nações» e associou-a ao caos da Torre de Babel.
O que faz com que uma globalização seja tão diferente da outra? O Ciberdúvidas dá o sentido descritivo e o papa trabalha o seu discurso sobre o sentido avaliativo da palavra. Vulgarmente, diferendos deste tipo surgem nas gramáticas escolares classificados através dos pares denotação vs. conotação ou sentido literal vs. sentido emotivo.
Atendendo ao significado literal, os sinónimos da palavra globalização são mundialização ou internacionalização; os antónimos serão acantonamento ou proteccionismo. No sentido emotivo, globalização emparceira com capitalismo selvagem e opõe-se a desenvolvimento sustentável.
Este fenómeno de duplo sentido é verificável em muitas palavras de todas as línguas do mundo. O que é que a palavra globalização tem, então, de especial? Tem que globalização é uma palavra globalizada exclusivamente no seu sentido avaliativo e, tal como uma arma, é uma palavra que está carregada. A bala é a falácia da simulação de se estar a fazer uma descrição objectiva da realidade quando, efectivamente, se está a tentar incutir uma opinião pré-fabricada.
Artigo publicado no semanário Sol de 12 de Janeiro de 2008, na coluna Ver como Se Diz