Ramiro Fonte, director do Instituto Cervantes em Lisboa
«Quem me escolheu para este lugar achou que nós, os escritores galegos, temos uma particular sensibilidade para entender a cultura portuguesa», afirma Ramiro Fonte, poeta e ficcionista, actualmente a dirigir o Instituto Cervantes de Lisboa. Diz-se «embaixador das culturas de Espanha» e acha útil promover a relação cultural entre a Galiza e o nosso país, uma relação que, julga, pode ser desenvolvida.
«Verifico, nos contactos com meios portugueses, que ser galego me aproxima, me faz mais facilmente ‘um deles’. Há a percepção de que portugueses e galegos partilhamos muita coisa. Na Galiza existe também esse interesse, mas tem de reconhecer-se que ele já foi maior. O Portugal hoje em foco na Galiza - os grandes arquitectos, os grandes escritores - é aquele que nos transmitem de Madrid, onde estão os ‘media’ de grande impacto, os que determinam a imagem.»
«Depois, em Espanha existe a convicção de que Portugal é um país fácil de entender. Ora, é exactamente muito complexo. Deixa-se conhecer, decerto. Mas na vida portuguesa há zonas de grande privacidade, de um enorme recato, onde um estrangeiro nunca será admitido. São zonas de mistério, de duplicidade moral, de segredo. Pense-se só nas complicadíssimas formas de tratamento. Portugal não mudará como país enquanto elas se mantiverem.»
«Mas, note-se, também a opinião sobre a Galiza aqui reinante é definida na capital espanhola. Na realidade, Portugal e Galiza olham-se um ao outro nos espelhos de Madrid e contentam-se, habitualmente, com essa imagem.»