A melhor forma de abordar a dúvida assinalada no seu texto é recordarmos que há verbos considerados abundantes por possuírem, para uma dada posição, mais de uma forma. Este facto é mais comum no particípio passado, podendo, embora, ocorrer noutras formas como no caso do verbo construir – constróis e construís. Os verbos abundantes têm, pois, habitualmente, dois particípios passados – um regular, ou de forma fraca, outro irregular, ou de forma forte. Os dois particípios não são utilizados aleatoriamente, e costuma associar-se a forma fraca, ou regular, à voz activa, ou seja, ao verbo ter («O carteiro tem entregado muita correspondência»), e a forma forte aos verbos estar e ser («A carta está/foi entregue»). Assim, podemos dizer que, de uma maneira geral, a forma do verbo que desempenha a função de um adjectivo é a forma forte, ou, para utilizarmos uma linguagem mais comum, mesmo entre os gramáticos, a forma irregular. Acontece que a evolução da língua é constante e há verbos que estão a perder a abundância, como é o caso do verbo ganhar: «O dinheiro está ganho»; «Ele tem ganho muito dinheiro». Já não se diz «tem ganhado» a não ser regionalmente. Dir-me-á, não sem razão, que estou a desviar-me. Espero que não. Mas espero também ilustrar, ainda que superficialmente (não o saberia fazer com mais profundidade, diga-se), que estamos perante um assunto complexo e em mudança. O problema não é, ainda, facilitado pela existência, segundo Paul Teyssier, Manual de Língua Portuguesa, Coimbra Editora, pp. 308/309, de «falsos duplos particípios». Ou seja, de verbos que têm um particípio e um adjectivo, que não é, embora pareça, particípio. É o caso do verbo oprimir, que não é um verbo abundante, mas, sim, um verbo que tem um particípio, oprimido. A par deste particípio que, como os outros particípios, pode ser usado como adjectivo, existe o adjectivo . Seguindo Teyssier, o falante teria ao seu dispor dois adjectivos, utilizando cada um a seu bel-prazer. E no caso em apreço parece haver uma predilecção por oprimido, embora o dicionário da Academia registe a expressão «respiração opressa». O caso do verbo infectar é igualmente incluído por Teyssier nos verbos com um «falso duplo particípio». Parece-me haver também neste caso, perante duas palavras de sentido igual, um comportamento comum, que é a predilecção por uma delas. Neste caso, pelo adjectivo infectado, em detrimento do adjectivo infecto.No caso do verbo agradecer, embora não faça parte da lista de verbos com um falso duplo particípio apresentada por Teyssier, é bem provável que seja essa a situação, pois ele não é indicado como verbo abundante em nenhuma das listas que consultei. Da mesma forma que aí não ocorrem, igualmente, os verbos oprimir nem infectar.