Embora o paralelismo seja uma figura facilmente identificável – por se manifestar como uma «repetição da construção da frase» (Dicionário de Literatura, Porto, Figueirinhas, 1979) –, não podemos deixar de realçar que se trata «de um fenómeno literário de âmbito lato e de definição imprecisa, cujas manifestações […] podem revelar graus de elaboração e de complexidade muito diversos.» (Biblos, Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, Lisboa/São Paulo, Verbo, 1997).
Enquanto figura de construção, o paralelismo caracteriza-se pela «repetição de estruturas, mais do que das próprias estruturas» (Henry Suhany, As figuras de estilo, col. Que sais-je?, Porto, RES, s.d.), identificando-se pela presença de frases semelhantes umas às outras, em que se destacam «conjuntos do mesmo comprimento e com a mesma sintaxe» (idem) e onde se joga com «a permanência e a variedade, havendo muitas vezes repetição de palavras que [o] sublinham». (idem)
Recorrendo à semelhança e à repetição de estruturas, o paralelismo evidencia-se também – e sobretudo – pela riqueza da diversidade, pois é à «presença regular de iteração frásica com variações» (Biblos, ob. cit.) que se deve a sua particularidade como figura estruturante do discurso (idem), o que o torna um fenómeno literário complexo.
De facto, várias são as manifestações de pleonasmo. Segundo o Dicionário de Literatura (ob. cit.), «as palavras podem ou não ser as mesmas; o que importa é que a estrutura gramatical e a ordenação dos elementos se mantenham», do que se pode inferir que o primeiro caso corresponde ao paralelismo gramatical, e o segundo, ao paralelismo sintáctico.
Por sua vez, a Biblos, Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa (ob. cit.) alerta-nos também para duas realidades inerentes ao pleonasmo: por um lado, para o leque de variações que, «situadas no nível vocabular, sintáctico, semântico, rítmico, fónico, ou resultando da combinação de variações em diversos níveis, podem ser mínimas ou, pelo contrário, de amplitude muito razoável»; e, por outro, para o facto de tais variações estarem «sempre limitadas pela capacidade de captação, por parte do receptor, da recorrência de elementos discursivos mediadores da similitude entre a frase inicial e aquela que "a repete"».
Ora, na enumeração do tipo de variações que podem ocorrer como manifestações de paralelismo, apercebemo-nos de que cada uma corresponde a um determinado tipo de pleonasmo, do que se conclui, por exemplo, que sempre que duas ou mais estruturas constituem uma unidade de sentido nos encontramos perante um paralelismo semântico, a que Henri Suhany chama de hipozarxe, pois explica-o como o «paralelismo que é apreendido intelectualmente sem suporte sonoro», isto é, sem que se repitam as mesmas palavras.
Este autor distingue ainda o paralelismo gramatical – «sequência de palavras com estruturas gramaticais idênticas» – de um outro mais complexo (ou mais rico), «que alinha segmentos com a mesma sintaxe, o mesmo ritmo e o mesmo comprimento, a que dá o nome de «diástole» e que parece compreender o paralelismo rítmico e o paralismo sintáctico.
Como a consulente se deve ter apercebido, nesta resposta não foi feita qualquer referência à(s) perspectiva(s) defendidas pelo prof. Othom (autor que nos indicou, a cuja obra não tivemos acesso), cujas teorias já foram objecto de resposta anteriores, como se pode ver em Paralelismo sintáctico, outra vez.