A definição de concreto e de abstracto relativamente aos substantivos não é propriamente consensual. Acerca deste assunto diz Napoleão Mendes de Almeida na Gramática Metódica da Língua Portuguesa, numa nota, na p. 86: «A classificação dos substantivos em concretos e abstratos pertence mais à filosofia do que à gramática; encerra ou gera subtilezas ou discrepâncias de nenhum proveito para o idioma.» Estamos, pois, a falar de um assunto em que pode haver posições discrepantes e igualmente defensáveis. Explicitada a possível ambiguidade da questão em apreço, vejamos o que dizem outros autores, antes de analisarmos as situações concretas que nos coloca, prezada consulente.
Segundo Evanildo Bechara, na Moderna Gramática da Língua Portuguesa, p. 113, «Os substantivos concretos nomeiam pessoas, lugares, animais, vegetais e coisas.
Os substantivos abstratos designam ações (beijo, trabalho, saída cansaço), estado e qualidade (prazer, beleza) considerados fora dos seres, como se tivessem existência individual».
Por seu lado, Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, dizem na pág. 177: «Chamam-se substantivos CONCRETOS os substantivos que designam os seres propriamente ditos, isto é, os nomes de pessoas, de lugares, de instituições, de um género de uma espécie ou de um dos seus representantes […] Dá-se o nome de ABSTRACTOS aos substantivos que designam noções, acções, estados e qualidades, considerados como seres…» Na p. 187 referem isoladamente dois grupos de nomes «que se usam habitualmente no singular. Assim os nomes de metais e os nomes abstractos: ferro, ouro cobre; fé, esperança, caridade. Quando aparecem no plural, têm em regra sentido diferente».
As palavras em apreço, pelas definições apresentadas, poderão incluir-se no âmbito dos nomes abstractos. Saída e luta designam claramente acções. Quanto a aniversário, tenho alguma dificuldade em definir de forma abreviada o que ele define. Será uma acção: o acto de nascer? Será uma noção, associada à comemoração de determinada data específica e significativa? De qualquer forma, como não designa uma entidade propriamente dita (ou imaginária, como outros gramáticos também referem), trata-se, à partida, de um nome abstracto.
Relativamente à forma de transformar um nome abstracto em concreto, o único aspecto, de ordem gramatical, que encontrei e que me parece materializar, de algum modo, essa possibilidade é a referência de Cunha e Cintra ao facto de os nomes abstractos se utilizarem no singular, mudando de sentido quando utilizados no plural. Vejamos, antes de mais, se a utilização do plural implica alteração de sentido:
Saída
(1) Esta situação é tão complicada, que não se vislumbra saída. – Abstracto
(2) Morreu muita gente no incêndio porque as saídas estavam bloqueadas. – Concreto (saídas equivale a portas)
Luta
(3) A equipa estava tão desmoralizada, que não dava luta. – Abstracto
(4) As lutas partidárias nem sempre são desinteressadas. – Creio que, contrariamente ao que acontece entre (1) e (2), nestes exemplos não se verifica uma verdadeira alteração de sentido da palavra luta, não funcionando assim, do meu ponto de vista, o plural como traço gramatical passível de permitir a distinção clara entre concreto e abstracto. Aqui, luta continua a ser um substantivo abstracto, que designa uma acção.
Aniversário
Também neste caso, quer se utilize o singular, quer se utilize o plural, estaremos sempre perante o mesmo conceito.
(5) Comemora sempre o aniversário em casa dos pais. – Abstracto [seja acção, seja noção…]
(6) Os aniversários mais originais são os daquele restaurante. Abstracto [representa festa, que é uma acção…]
Concluindo, o único procedimento gramatical referido nas gramáticas consultadas só foi útil na distinção entre concreto e abstracto em um dos três casos em apreço. Não me ocorrem, além disso, frases em que as palavras luta e aniversário possam ocorrer com um sentido que possa encaixar na definição de substantivo concreto.