Recomendam-se duas maneiras de construir a frase em questão: «O (seu) médico aconselhou-lhe fazer ioga» e «O (seu) médico aconselhou-a a fazer ioga».
A amiga do consulente tem efetivamente razão quando não aceita «O seu médico aconselhou-lhe a fazer ioga», porque:
I – o verbo aconselhar, associado ao pronome pessoal átono lhe – ou a qualquer complemento formado pela preposição a e por um nome («ao João», «à jovem») –, seleciona ainda um complemento que pode ser (sublinham-se os constituintes relevantes para a análise):
a) uma expressão nominal: «o médico aconselhou-lhe o ioga»;
b) uma oração introduzida pela conjunção que + conjuntivo: «aconselhou-lhe que fizesse ioga»;
c) um infinitivo: «aconselhou-lhe fazer ioga».
II – O mesmo verbo, associado aos pronomes pessoais átonos o ou a (e respetivos plurais), tem depois deste complemento um outro, sempre precedido da preposição a:
d) a que + conjuntivo: «aconselhou-a a que fizesse ioga»;
e) a + infinitivo: «aconselhou-a a fazer ioga»;
Estas são as regras gerais1 para a sintaxe de aconselhar, mas devem ter-se em atenção duas particularidades do uso:
1. Quando aconselhar é usado com infinitivo, usa-se mais o pronome pessoal o/a do que lhe: é mais frequente dizer/escrever frases como «aconselhou-a a fazer ioga» do que «aconselhou-lhe fazer ioga» (cf. Corpus do Português de Mark Davies);
2. Em d), isto é, com oração formada por a que + conjuntivo, é possível omitir a preposição a, como acontece muitas vezes antes da conjunção que: «aconselhou-a que fizesse ioga» (cf. nota 1). Trata-se de uma possibilidade que alguns falantes de português podem achar menos correta na escrita, mas que na oralidade é aceitável.
1 Francisco Fernandes, no seu Dicionário de Regimes de Verbos (Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo, Edição da Livraria do Globo, 6.ª edição, 1947), salienta a construção de acordo com o esquema «aconselhar alguém a que faça alguma coisa» com a seguinte abonação: «Aconselhei-o a que respondesse» (M. Barreto, Fatos da Língua, 191). Mas o mesmo autor assinala igualmente outras possibilidades: «Outro modo de construir o verbo aconselhar é pôr em dativo [= como complemento indireto] a pessoa a quem se aconselha , e em acusativo a coisa aconselhada: "Aconselho aos meus alunos que não se escapuleiem jamais em usar o sinal da crase em tais locuções". (Sá Nunes, Língua Vernácula, 3.ª série, 137). "Rompia em exclamações contra a mulher que lhe aconselhara dar maior publicidade à sua desonra". (Camilo, Esqueleto, 240). – "Uma terceira construção de aconselhar é a em que se omite a preposição e se usa o acusativo de pessoa: Aconselhavam-no que ao menos com os grandes se mostrasse mais tratável. Não faltou quem o aconselhasse que se valesse do Santo. Aconselharam-no que intentasse ação judicial contra os sócios". (M. Barreto, Fatos da Língua, 191) [...].»