1. Não se deve às novas tecnologias a identificação de semivogais (orais ou nasais), nem se pode dizer com segurança que, em tempos, era difícil aceitar a existência de semivogais em português. Basta referir que o termo semivogal foi usado pelo filólogo português J. Leite de Vasconcelos, nas suas Lições de Filologia (2.ª edição, Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, 1926, pág. 30). Mesmo em gramáticas escolares publicadas em Portugal, encontra-se este termo, por exemplo, no Compêndio de Gramática Portuguesa de J. M. Nunes de Figueiredo e A. Gomes Ferreira (Porto, Porto Editora, 1976, pág. 156).
2. Quanto ao [ɫ], que ocorre em final de sílaba, trata-se de uma consoante que há muito está descrita por vários investigadores e gramáticos com diferentes termos, em função da perspetiva teórica adotada. No entanto, parece-me que uma classificação acessível ao chamado grande público é a proposta por Celso Cunha e Lindley Cintra, que, na Nova Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 45-47), apresentam essa consoante como uma consoante lateral alveolar velarizada, que soa de modo diferente do [l] que ocorre em começo de sílaba (isto é, em começo ou meio de palavra):
«[...] Na pronúncia normal do português europeu, a consoante l, quando final de sílaba, é velarizada; a sua articulação aproxima-se,pelo recuo da língua, à de um [u] ou [w]. Na transcrição fonética, é costume distinguir este l do l inicial de sílaba, representando-se o último por [l] e a consoante velarizada por [ł]: lado [´laδu], alto [´ałtu], mal [´mał].»1
Em relação ao português brasileiro, os mesmos autores (ibidem) assinalam que «na pronúncia normal do Rio de Janeiro e vastas zonas do Brasil, [...] o l final de sílaba [se] vocaliza [...], ou seja, transforma-se na semivogal [w]: alto [´awtu], mal [´maw]».
1 Cunha e Cintra usam o símbolo ł, em lugar de ɫ, que é atualmente o símbolo atribuído à consoante em apreço pelos estudos descritivos mais recentes (cf. M.ª Helena Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 1016).