A língua portuguesa é flexível quanto à formação de femininos em profissões ou actividades. Nomes designativos de profissões que até há pouco tempo eram desempenhadas apenas por homens foram, à medida que as mulheres entraram nesse espaço laboral, assumindo o feminino. Foco apenas dois dos mais consensuais: médica, advogada.
O problema que se apresenta com as duas palavras em apreço é que não designam uma actividade específica de um dos sexos que tenha sofrido alterações significativas. Ou talvez sim, com a chegada das mulheres a funções que “facilitem” a atribuição do epíteto…
A par desta problemática regista-se o uso das palavras em apreço no feminino em algumas páginas electrónicas. Ambas estão igualmente atestadas no Corpus do Português. Carrasca aparece com dois significados: segundo um, que também ocorre dicionarizado, designa uma planta ou arbusto; segundo outro, tem valor de adjectivo e o significado de «entidade que provoca ou faz mal». Com esta segunda acepção é usada por Rita Ferro numa crónica em 1994:
«A história deu brado em todo o Porto e arredores, e Organtina, em vez de pagar com juros a sua garridez carrasca, tornou-se lendária…»
Também verduga ocorre no Corpus do Português, ainda que não a tenha encontrado dicionarizada. É usada por Bento Pereira em 1697 e é apresentada como equivalente a verdugada, designando uma peça de vestuário feminino.
Em síntese, o feminino das duas palavras existe e é, aqui e ali, usado com o significado que, maioritariamente, damos ao masculino. Quanto ao uso a fazer destes dois femininos, numa situação de copidesque, creio que importa ter em conta o contexto e o destinatário do documento. Isto porque não é linear que todos os falantes aceitem facilmente o uso do feminino destas palavras. Por isso, importa medir bem para ver se vale a pena inovar, introduzindo o neologismo, ou dar a volta ao texto e manter o masculino. Note-se que a base morfológica do português Mordebe, colocada em linha em 2006, não contempla o feminino de nenhuma destas palavras, embora contemple o de algumas que designam profissões cujo feminino está, ainda, longe se ser consensual, como acontece com juíza.