Não encontro termo do Dicionário Terminológico (DT) que se adapte à características de eis. Penso que isso se deve à dificuldade de enquadrar eis numa das classes de palavras conhecidas.
Mesmo num quadro tradicional, a classificação de eis como advérbio não é consensual. Na Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967, regista-se o termo advérbio de designação, que gramáticas que a adoptaram (p. ex., J. M. Nunes de Figueiredo e A. Gomes Ferreira, Compêndio de Gramática Portuguesa, Porto Editora, pág. 301) aplicaram à palavra eis. Contudo, a Nomenclatura Gramatical Brasileira de 1959 (NGB) propõe sem concretizar uma classificação à parte para certas palavras de estatuto adverbial duvidoso. Em consonância com a NGB, Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 549) classificam eis como palavra denotativa de designação, com a seguinte advertência:
«[...] tais palavras não devem ser incluídas entre os advérbios. Não modificam o verbo, nem o adjectivo, nem outro advérbio. São por vezes de classificação extremamente difícil. Por isso, na análise, convém dizer apenas: "palavra ou locução denotadora de exclusão, de realce, de rectificação", etc.»1
Com advertência, é legítimo entender que Cunha e Cintra consideram eis não como advérbio mas sim como palavra denotadora de designação.
Noutra perspectiva, Ana Costa e João Costa (O Que É Um Advérbio?, Lisboa, Edições Colibri/Associação de Professores de Português, 2001, pág. 65/66) também apontam a peculiaridade de eis:
«O advérbio de designação eis apresenta características muito particulares, o que torna suspeita a sua inclusão na classe dos advérbios. [...]»
Costa e Costa (op. cit) sublinham duas características do comportamento de eis:
a) ao contrário dos outros advérbios, não surge em contextos frásicos, antes introduz apenas um sintagma nominal, podendo este ser substituído por uma oração subordinada completiva:
«Eis a Paula.»
«Eis que a Paula se aproxima de nós.»
b) eis pode atribuir caso acusativo, ou seja, usa-se com a forma de complemento directo do pronome pessoal átono:
Ei-la.
Em síntese, embora no DT não se encontre termo relativo à classe dos advérbios que corresponda a eis, parece-me que esta palavra se pode ainda classificar como advérbio de designação, seguindo certa tradição descritiva portuguesa. Ao mesmo tempo, a classificação de tal termo deve manter a ressalva de esta não ser totalmente adequada, como sugerem a a NGB brasileira e outros instrumentos de descrição gramatical.
1 Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 291), segue também a NGB e classifica eis como palavra denotadora de designação.