Um falante de uma das variedades do português pode sempre empregar uma estrutura característica de outra variedade não-materna... Se o fizer, das duas, uma: ou o contexto o justifica (por exemplo, porque tenciona imitar) ou, numa dada instância discursiva (oral ou escrita), tomou a decisão de mudar de variedade. Esta decisão implica adoptar todos os traços característicos da variedade não-nativa, um pouco como se falasse uma língua estrangeira.
Ora, se num texto escrito se reconhecem traços do português europeu, e subitamente aparece uma marca do português brasileiro, sem justificação contextual, conclui-se que o autor foi incoerente ou que afinal não domina adequadamente a variedade portuguesa. Quer isto dizer que cada indivíduo tem de ser consistente no uso de cada variedade, sobretudo na escrita, mesmo que tenha contactado com outras modalidades da comunidade linguística em que se insere. Deve-se, portanto, evitar a mistura de variedades no mesmo registo escrito, sobretudo porque é difícil revelar autenticidade no recurso à variedade não-materna. Tal não obsta a que um português possa experimentar o estilo e as opções gramaticais da norma e dos dialectos do Brasil (alguns escritores têm-no feito), e um brasileiro se aventure na fonética e na sintaxe lusitanas.