Os complementos de tempo situam uma determinada acção no tempo, podendo veicular uma ideia associada de anterioridade, simultaneidade ou posterioridade. Podem ainda, como é o caso de sempre, veicular uma ideia de repetição. Podemos, pois, dizer que na frase 1 há, como diz, dois complementos circunstanciais de tempo (ou, na nova terminologia, modificadores de valor temporal), indicando um quando acontecia («à noite») e o outro a ideia de repetição da acção («sempre»). Esta ideia de repetição está também presente no tempo verbal.
1. «À noite, ela contava sempre uma história.»
O verbo demorar pode ser intransitivo ou transitivo. Na frase 2, a classificação do verbo não é fácil. Pode ser considerado transitivo, por analogia com as frases 3 e 4:
2. «Demorámos cinco dias a chegar.»
3. «Demorámos algum tempo a recompor-nos.»
4. «A baronesa demorou o olhar sobre a neta.»
Mas pode igualmente ser considerado intransitivo, prevalecendo o facto de a expressão «cinco dias» veicular uma ideia de tempo e não sofrer influência directa da acção do verbo, como acontece num verbo tipicamente transitivo como comer em «O João comeu um bolo». Nesta frase, «um bolo» sofre a acção designada pelo verbo (é, semanticamente, um paciente), o que não acontece com «cinco dias» em 2. Porém, se, pelo que foi dito acima, o verbo demorar pode ser considerado intransitivo, também tem algumas características que o aproximam dos verbos transitivos, uma vez que pode ser substituído pelo pronome pessoal, ainda que em contextos específicos e veiculando sempre uma ideia de tempo:
2.1. «Cinco dias, demorámo-los nós a chegar.»
Em síntese, se considerarmos o verbo intransitivo, «cinco dias» será um complemento circunstancial, ou modificador. Se o consideramos transitivo, a expressão em apreço será complemento directo. Importa, no entanto, ter em conta que, enquanto complemento directo, não desempenha o papel semântico que é característico do complemento directo.