DÚVIDAS

Sobre bibliografia indicada para a nova terminologia

Edite Prada, na resposta de 22/09/2005, afirma que «subordinadas substantivas são as frases que têm função de complemento directo de outras». Ora também o são as que têm função de sujeito e de predicativo do sujeito. Ou não? Por outro lado, recomenda a consulta da obra Saber Português hoje: Gramática Pedagógica da Língua Portuguesa. Ora esta gramática, em certos aspectos, não segue a Nova Terminologia, continuando, por exemplo, com a designação de «complementos circunstanciais». Para além disso, na página 123, distingue atributo de aposto, designando este último como modificador nominal? Depois, explica que o atributo, além de modificador restritivo, pode ser modificador apositivo, se especifica o significado do nome, como no exemplo: «O vestido que trazias ontem, verde e azul, fica-te bem.» A minha questão é: neste caso, os adjectivos não são apostos? E o atributo não é também um modificador nominal?

Resposta

Tem toda a razão nas observações que faz. Agradeço-lhe a leitura atenta da resposta que dei e também a possibilidade de explicitar de forma mais clara alguns aspectos focados de forma incompleta. Procurarei responder a cada um dos três aspectos que foca: 1 – as subordinadas substantivas; 2 – a obra Saber Português hoje: Gramática Pedagógica da Língua Portuguesa e os complementos circunstanciais; 3 – aposto e atributo.

1 – As subordinadas substantivas
Relativamente ao facto de as frases subordinadas substantivas poderem desempenhar outras funções para além da de complemento directo, tenho vindo, precisamente, a alertar nesse sentido em outras respostas sobre a terminologia. Efectivamente, para além da situação mais canónica, que é aquela em que se integra na frase matriz como complemento directo, a subordinada substantiva pode ser, pelo menos:
Complemento indirecto: «Dei o prémio a quem o mereceu
Complemento agente da passiva: «As ordens são dadas por quem pode
Sujeito: «É provável que o João chegue amanhã
Predicativo do sujeito: «A verdade é que não quero continuar
Predicativo do complemento directo: «O chefe escolheu o João para o substituir
Complemento do nome, ou completiva nominal: ««Essa mania de dormires pouco ainda te vai prejudicar.»
Complemento de um adjectivo, ou completiva adjectival: «Este livro é difícil de encontrar

2 – A obra Saber Português hoje: Gramática Pedagógica da Língua Portuguesa e os complementos circunstanciais
Em respostas mais recentes que elaborei sobre a TLEBS, poderá verificar que deixei de referir a obra em causa, precisamente pelos aspectos que foca. Talvez devesse ter feito mais do que simplesmente omitir. Agradeço-lhe a oportunidade de explicitar a minha opção. Não é, efectivamente, uma obra que nos ajude nos aspectos mais cruciais, como, por exemplo, na distinção entre complemento e modificador. Se eu tivesse recorrido a ela mais cedo, teria verificado isso atempadamente. Do meu erro peço desculpa ao consulente e a todos os leitores do Ciberdúvidas.

3 – Aposto e atributo
Do ponto de vista da gramática tradicional, e de uma forma muito simplista, o adjectivo funciona como atributo ou como predicativo. O aposto, composto – entre outros – por um nome ou uma expressão nominal, habitualmente entre vírgulas, acrescenta informação sobre outro nome.
A interpretação que a TLEBS propõe é distinta. Considera haver modificadores do nome que podem ser restritivos, se atribuem uma característica específica que isola o conjunto referido pelo nome: «Os alunos atentos compreenderam a aula» (os desatentos, não), ou apositivos se complementam a informação e a não restringem: «Os alunos, atentos, compreenderam a lição» (todos compreenderam, por estarem atentos).
Os modificadores do nome podem ser adjectivos, ou grupos adjectivais, grupos preposicionais, grupos nominais ou frases.

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