Não discordo de que a observância das regências associadas às palavras relator e especialista é um comportamento linguístico correcto. Mas também não concordo com a rejeição da construção relativa introduzida por para, porque a questão não reside só na regência desses substantivos; relaciona-se também com a sintaxe de verbos que apresentam comportamentos sintáctivos diferentes.
Observem-se mais uma vez as frases em questão:
(1) «O presidente acusa o recebimento da seguinte proposição, para a qual designou o relator citado entre parênteses: Projeto de Lei n.º 489 (Deputado Carlos Feitosa).»
(2) «O presidente acusa o recebimento da seguinte proposição, para a qual considerou especialista o Deputado Carlos Feitosa.»
As frases que o consulente usa em analogia para legitimar a sua análise não têm exactamente a mesma estrutura sintáctico-semântica, porque designar não se comporta como considerar.
Em 1, a palavra relator é complemento do verbo designar, que, à semelhança, de nomear, admite complemento opcional referente à finalidade do acto de designação ou nomeação. É o que nos mostram exemplos retirados do Dicionário Houaiss:1
(3) «Nomeou o primeiro colocado no concurso para o cargo.»
(4) «Designe o local e a hora para o encontro.»2
Ora, não é bem isto que acontece com considerar, pelo menos, quando significa «achar», «ver como»
(5) ?«Considerou o deputado Carlos Feitosa (como) especialista para a proposição.»
A frase 5 torna-se, contudo, aceitável, se considerar for empregado na acepção de «ter em conta», sendo a frase interpretável como uma elipse de «Considerou especialista o deputado Carlos Feitosa para tratar da proposição.»
Repito, aceito as estruturas que decorrem das regências dos substantivos relator e especialista, mas chamo a tenção para o facto de os verbos das orações em que ocorrem poderem também impor a sua própria sintaxe.
1 O Dicionário Prático de Regência Verbal, de Celso Pedro Luft, confirma esta possibilidade, quando indica o seguinte: «Designá-lo (para...). Nomear, escolher (para cargo, emprego): o governador nomeou um secretário para representá-lo. Designou-o para a função de assessor [...].»
2 A frase é ambígua, porque «para o cargo» tanto pode modificar «Nomeou o primeiro colocado no concurso» como «no concurso». De qualquer modo, ambas as leituras decorrem de estruturas correctas.