Transcrevemos o que sobre o assunto se diz na página 262 da Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra:
«Quando se compara a qualidade de dois seres, não se deve dizer mais bom, mais mau e mais grande; e sim: melhor, pior, maior. Possível é, no entanto, usar as formas analíticas desses adjectivos quando se confrontam duas qualidades do mesmo ser:
Ele foi mais mau do que desgraçado;
Ele é bom e inteligente; mais bom do que inteligente.»
Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, pág. 151) faz algumas observações acerca de «mais mau»:
«Não se diz mais bom nem mais grande em vez de melhor e maior; mas podem ocorrer mais pequeno, o mais pequeno, mais mau, por menor, o menor, pior. [...] É ainda oportuno lembrar que às vezes bom e mau constituem com o substantivo seguinte uma só lexia, uma só unidade léxica, de modo que, nesta situação, podem ser modificados pelos advérbios mais, menos, melhor, pior, que passam a referir-se a toda a expressão: homem de mais mau-caráter, pessoa de menos más intenções, palavras da melhor boa-fé [...].»
Como a expressão «mais mau» aparece numa frase do tipo «X é "mais mau" do que Y», não parece que aqui haja razão para preferir «mais mau» a pior, uma vez que se comparam duas entidades diferentes. É certo Bechara admite «mais mau» em lugar de pior, mas fica-se sem se perceber se o aceita em geral ou em certos contextos. De qualquer modo, o que o uso consagrou claramente é o comparativo pior, excepto nos casos específicos de qualidades do mesmo ser («X é mais mau que bom») e de expressões que funcionam como uma unidade lexical («mais mau-carácter»).
Em relação à interpretação de pior que o consulente faz, não vemos que este comparativo possa ter outra interpretação que não seja «mais mau». Imaginando que o consulente sugere que pior também significa «não tão bom», não é fácil parafrasear «o meu cão é pior que o teu» como «o teu cão é bom, mas o meu é pior», porque pior é comparativo de mau, pressupondo-o; portanto, não pressupõe bom nem é seu comparativo.
Por outro lado, é possível que o consulente esteja a considerar que mau no contexto significa «mau-carácter», formando uma unidade, ou «mau no carácter. Se assim é, a expressão «mais mau» afigura-se mais aceitável, indo ao encontro da descrição de Bechara (ver supra). Mas não quer isto dizer que pior seja de rejeitar, porque, se é certo que não se diz «X é pior carácter que Y», já «X é pior que Y no carácter» não oferece problemas.