As duas formas estão corretas.
Sobre a construção por + expressão nominal + fora1, não há dúvidas quanto à sua correção e observa-se que tem frequência significativa. No entanto, também ocorre suprimir a preposição, ficando a construção reduzida a expressão nominal + fora1, que aparece mais raramente, mas não está incorreta – pelo contrário, pois dá realce à expressão do movimento de forma bastante concisa. A mesma omissão é possível com outros advérbios com verbos de movimento e nomes que denotam as noções de caminho, passagem ou recinto: «foi pela casa dentro»2 vs. «foi casa dentro»; «foi pela ladeira acima» vs. «foi ladeira acima»; «veio pela rua abaixo» vs. «veio rua abaixo».
Há exemplos literários deste uso de fora, sobretudo da locução «estrada fora», isto é, «pela estrada fora», tanto entre escritores portugueses, como em autores brasileiros (abonações recolhidas no Corpus do Português, de Mark Davies; sublinhados nossos):
(1) «Por isso é que quando ela arrancava estrada fora, PUF.. PUF.. os rapazitos, aqueles diabos, corriam a acompanhá-la, rindo e acenando com os braços [...]» (José Cardoso Pires, A República dos Corvos, 1999)
(2) «Noite fora, duas, três vezes, não pôde impedir-se de verificar se lá continuava: de cada vez o mesmo sorriso e o mesmo gesto do dedo a rodopiar, convidando-a. » (Fauré da Rosa, Retrato de Família, 1945)
(3) «Quanto mais a camioneta corria, estrada fora, mais viva era em Adriano a sensação de que se despegava dolorosamente de qualquer coisa ao mesmo tempo querida e imperiosa.» (Manuel da Fonseca, Cerromaior, 1943)
(4) «Prometi voltar a miúdo e fui-me, estrada fora, leve como uma pluma mas forte como um Hércules, vencedor da hidra " Vulgaridade ", em pura levitação sensual.» (Manuel Teixeira Gomes, Gente Singular, 1909)
(5) «E, sentindo um novelo enrodilhar-se-lhe na garganta, foi à janela e abriu-a bruscamente de par em par. Sua fantasia fugiu logo noite fora, como ave ominosa e amiga das trevas e do silêncio. » (Aluísio Azevedo, Filomena Borges, 1884)
(6) «Lembrei-me da mulher dele, que lá vai, mar fora. Pensei na Thereza: Porque terá deixado de me escrever?» (Fialho de Almeida, A Cidade do Vício, 1882)
(7) «Quando se abriu o erário para locupletar o auto engenho de Gil Vicente? Quando foi necessário ir mundo fora em cata de gritadores que vendem tão caro o ar dos pulmões vibrado no mecanismo da garganta? » (Camilo Castelo Branco, A Queda dum Anjo, 1866)
Para a expressão «porta fora», também se encontram abonações:
(8) «A estas palavras sacrílegas, as mulheres fugiam porta fora rindo escandalosamente, chamando-lhe carbonário, e que haviam de ir contar tudo ao patrão. (José Rodrigues Miguéis, Páscoa Feliz, 1932)
(9) «Súbito, quase gritou: - Estão a bater! É o Jaime! E precipitou-se porta fora.(José Régio, O Príncipe com orelhas de Burro, 1942)
(10) «E então Natália, sua mulher, pôs uma corrida porta fora, de mãos na cabeça, aos gritos de matam no meu marido.»3 (João de Melo, Autópsia de um Mar de Ruínas, 1992)
1 Também se regista a variante afora: «saiu pela porta afora», «caminhou pela estrada afora» [exemplos do Dicionário Houaiss, s.v. afora) ; ver também dicionário da Academia das Ciências (ACL) e Lisboa e Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa].
2 Tem a variante adentro: «entrou casa adentro» – cf. dicionário da ACL, s.v. adentro, que acolhe ainda as locuções «paredes adentro» (=«dentro de casa»), e «pela noite adentro» (= «ao longo de toda a noite».
3 A expressão «matam no meu marido» significa «matam o meu marido». A forma "no" é típico arcaísmo do registo popular e deve-se à nasalidade da forma verbal que precede o artigo definido o.