É uma questão de modismo. E de pretensiosismo de quem, hoje, faz relatos de futebol.
José Pedro Machado regista, no seu Dicionário da Língua Portuguesa, os três vocábulos como sinónimos: tanto no sentido oral (a descrição de um jogo de futebol, no caso em apreço), como por via da escrita (a acta de uma reunião, por ex.).
Quem se lembra, lembra-se de ouvir os grandes relatores desportivos mais antigos, como Lança Moreira, Artur Agostinho, Amadeu José de Freitas, Nuno Brás, Romeu Correia, ou Fernando Correia; ou, de mais recente data, nomes como os de Carlos Cruz, Ribeiro Cristóvão, David Borges ou Jorge Perestrelo – grandes vozes do relato desportivo português. Relatores – como ele sempre se intitulavam, e nunca «relatadores», muito menos «narradores». E o relato de um jogo de futebol (ou de hóquei em patins, ou, mais raramente, na Volta a Portugal) era o que era: acima de tudo, um exercício de português bem falado; muito bem falado. E inventivo, com imagens para sempre célebres: bola à flor da relva», «retenção de bola», «tapete verde», «no enfiamento da jogada»…
Hoje, como os relatores preferem agora chamar-se «narradores» – e o relato já não é relato, passou a dizer-se «narração» –, o resultado é o que se vai ouvindo. Ao pior estilo "retenção da posse da bola". Isto é: pontapé prá frente na gramática e meia-bola-e-força no futebolês mais canhestro.
Cf. A arte de bem relatar futebol + O relato de futebol + Os relatos de futebol + Para a História do Jornalismo Desportivo Radiofónico em Portugal: O Contributo da ‘Bola Branca’ + Memória dos dias da rádio + Estudos da rádio em Portugal + Memórias de jornalistas + História da rádio do Porto contada às novas gerações + Identidade do jornalista desportivo: a pressão clubística