Entre géneros textuais e protótipos textuais não há uma relação de inclusão.
Os textos literários podem repartir-se pelo género lírico, dramático e épico, tal como postula a tradição literária, que remonta à Antiguidade. Há uma relação de inclusão entre o soneto, a ode, a balada, o madrigal (por exemplo) e a poesia; há também uma relação de inclusão entre a tragédia, o drama, a comédia e o teatro.
Mas a noção de «protótipo textual» assenta em pressupostos teóricos específicos. Um protótipo textual é um agregado de características regulares, realizado numa unidade mínima de composição textual (que pode, na prática, corresponder a um enunciado ou a uma sequência de enunciados mais ou menos extensa). Estas unidades sequenciais regulares ou estáveis (sequências prototípicas ou protótipos textuais) estão disponíveis para entrar em múltiplas combinações. Assim, um dado poema pode constituir-se de uma sequência prototípica descritiva, uma argumentativa e uma dialogal; mas o poema da página seguinte pode integrar apenas uma sequência descritiva, por exemplo. Inversamente, a sequência prototípica narrativa está na epopeia, na fábula, no romance, no teatro, na anedota, na reportagem, na parábola... Não é a classificação de género que determina o modo de organização dos protótipos textuais.
Duas ideias fortes a reter:
1– o levantamento dos protótipos textuais (narrativo, descritivo, argumentativo, dialogal, injuntivo, expositivo) não se atém a textos acabados, mas a unidades integradoras de textos acabados;
2– o estudo dos protótipos textuais contorna critérios de ordem histórico-social ou funcional e privilegia critérios de ordem linguística.