A afirmação de que a pronúncia do Brasil está atrasada 200 anos constitui uma forma de desprezo pela história. Pelo que se depreende da frase - e observe-se que estamos a analisá-la fora do contexto - , quem o afirma não reconhece legitimidade às variações regionais e às mudanças históricas que ocorrem fora do centro do poder. O facto de a pronúncia em Portugal ter mudado nos últimos 200 anos, afastando-se da brasileira, não dá mais legitimidade a uma do que a outra. Nenhum dos lados é dono da língua. Mesmo em Portugal, o sotaque não é uniforme. Não existe legitimidade para considerar erróneo o falar da região do Porto, onde se ouve «binho» em vez de vinho e «baca» em vez de vaca, propondo como «correcto» o sotaque de Lisboa ou de Coimbra.