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Aquilo a que se refere não se prende com o facto de pronunciar bem ou mal a palavra antiguidade, mas sim à correta divisão silábica da mesma. O que quer saber é se podemos ter uma ou duas sílabas na sequência gui.
«Chama-se ditongo a uma sequência de uma vogal e uma semivogal (ditongo decrescente) ou de uma semivogal e uma vogal (ditongo crescente).» As semivogais são sons muito próximos das vogais, distinguindo-se destas por nunca poderem constituir sozinhas núcleo de sílaba (uma sílaba pode ser constituída apenas por uma vogal; uma semivogal ocorre sempre junto de uma vogal na mesma sílaba). Existem em português ditongos orais e ditongos nasais formados por combinação de vogais com as semivogais [j] e [w].
Em português pode dizer-se que apenas os ditongos crescentes são estáveis, isto é, são sempre pronunciados como ditongos e nunca como sequências de duas vogais. A pronúncia dos ditongos crescentes, com excepção dos que são constituídos pela semivogal [w] precedida das consoantes [k] (escrita q ) ou [g] (quatro, água), pode alternar com a pronúncia das mesmas sequências gráficas como vogais pertencendo a sílabas diferentes. É o que acontece, por exemplo, com as sequências escritas ia, io, ea, eu em palavras como pátria, exercício, veado, Manuel, que numa fala mais rápida podem ser pronunciadas como ditongos crescentes e numa fala mais pausada podem pronunciar-se como duas vogais de sílabas diferentes, isto é, como hiatos.» (Magnus Bergström e Neves Reis, Prontuário Ortográfico e guia da língua portuguesa, Editorial Notícias) Assim sendo, segundo os autores, a palavra «antiguidade» será dividida em an-ti-gui-da-de, algo que está de acordo com a Nova Gramática do Português Contemporâneo. Celso Cunha e Lindley Cintra também defendem que «em português apenas os [ditongos] decrescentes são ditongos estáveis. Os ditongos crescentes aparecem com frequência no verso. Mas na linguagem do colóquio normal só apresentam estabilidade aqueles que têm a semivogal [w] precedida de [k] [grafado q) ou de [g].»
No entanto, é preciso ter consciência da diversidade linguística que existe em Portugal e perceber que no Norte há uma certa tendência para uma divisão silábica que em Lisboa será impensável. Geralmente os manuais referem-se apenas à pronúncia de Lisboa e esquecem que diferentes pronúncias levam a diferentes maneiras de percepcionar a divisão silábica. Não será, portanto, estranho encontrar a Norte do país a divisão em an-ti-gu-i-da-de.
A título de curiosidade fica uma tabela com os resultados da divisão silábica feita por crianças do 8.º ano, em Lisboa, em palavras semelhantes às que menciona:
Ditongo
( qu,gu + Vogal ) Alunos do 8.º ano (Lisboa)
Linguiça gui : 100%
Qual qua : 70% / qu – a : 30%
Igual gua : 60% / gu – a : 40%
Lingueta gue : 100%
Tranquilo qui : 100%
(Susana Correia e Susana Cabeleira, Ditongos, Tritongos e Hiatos, Intuição e propostas de divisão silábica, sem publicação)