Nas frases interrogativas com locuções verbais — em que há um verbo auxiliar (neste caso, a forma verbal podia) e «o verbo principal está no infinitivo» —, é «exigida a próclise (a anteposição do pronome) apenas ao verbo auxiliar, nas orações iniciadas por pronomes ou advérbios interrogativos» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 315), como por exemplo:
«Que é que me podia acontecer?» (Graciliano Ramos, Angústia, p. 152)
«Em que lhe posso ser útil?» (Aquilino Ribeiro, O Malhadinhas, p. 268)
«Que mal me havia de fazer?» (Miguel Torga, Novos contos da Montanha, p. 47)
«Como te hei-de receber em dia tão posterior» (Cecília Meireles, Obra Poética, p. 406)
Ora, como as frases que nos apresenta, embora sejam interrogativas, não são iniciadas nem por pronomes nem por advérbios interrogativos, não estão sujeitas a essa regra. Habitualmente, nas locuções verbais, é aconselhada «a ênclise [colocação do pronome após] ao infinitivo [do verbo principal]» (idem,p. 314), tal como ocorre na segunda frase: «Podia dar-nos isso?»
No entanto, o uso tem mostrado que o pronome pode ocorrer ligado tanto ao verbo principal — «Podia-nos dar isso?» — como ao verbo auxiliar (ou semiauxiliar), legitimando as duas formas. Por isso, nenhuma das estruturas está incorreta.
Por fim, e relativamente à última frase apresentada — «Podia-no-lo dar?» —, seria exigida a ênclise ao verbo principal apenas «se o infinitivo viesse precedido da preposição a [pois] a ênclise é mesmo de rigor quando o pronome tem a forma o/lo (principalmente no feminino a/la)» (idem, p. 312) , como por exemplo:
«Se soubesse, não continuaria a lê-lo» (Rui Barbosa, Escritos e Discursos Seletos, p. 749)
«Logo os outros começaram a imitá-la» (Bernardo Santareno, A Traição do Padre Martinho, p. 120).
Nota: É de referir, também, que «quando o pronome está colocado depois do verbo [ênclise quer ao verbo principal como ao auxiliar], liga-se a ele por hífen, e a sua forma depende da terminação do verbo [o(s) , a(s), lo(s), la(s), no(s), na(s)]» (idem, p. 279).