DÚVIDAS

Pretérito perfeito

Eu vivo na Inglaterra e estou aprendendo a língua portuguesa, por isso, gostaria de tirar algumas dúvidas.
Quando eu digo:
"Acreditei naquilo que você disse ontem" - significa que não acredito mais, já que eu usei o pretérito perfeito ou existe a possibilidade de que "eu" ainda acredite nas palavras que o "você" disse ontem?
Para expressar que eu ainda acredito nessa pessoa devo usar acredito ou acreditei? Se eu usar acreditei, significa que não acredito mais nela?
Quando digo:
"Gostei da sua página na rede mundial dos computadores" - quer dizer que eu não gosto mais da sua página ou pode ser que eu ainda goste dela?
Quando eu digo:
"Soube que a garota ficou grávida" - significa que "eu soube" (não sei mais) ou pode ser que eu ainda tenha (no presente) esse conhecimento.

Resposta

Vejamos as frases apresentadas:

(a) Acreditei naquilo que você disse ontem.

(b) Gostei da sua página na rede mundial dos computadores.

(c) Soube que a garota ficou grávida.

Nestas três frases, temos o pretérito perfeito simples, que significa um facto completamente passado e sem qualquer relação com outro tempo. É, pois, um pretérito absoluto. Não tem continuação no presente. O que pode ter ou não ter continuação no presente não é o acto, mas o resultado do acto.

Um exemplo:

O rei mandou construir um palácio no séc. XVIII. O que pode continuar ou não continuar no presente é o resultado desse acto – o edifício. Tudo depende das circunstâncias relacionadas com o palácio.

Outro exemplo:

Jesus disse: «Amarás ao Senhor teu Deus». O acto de dizer é inteiramente passado. O que pode ser ou não presente é o efeito das palavras de Jesus. Para uns é presente, para outros não. Depende das circunstâncias.

Em presença da frase (a), ninguém está certo de que ainda acredito. Só estarão certos disso, se eu proferir uma frase com a forma verbal acredito ou de outro verbo com significado idêntico. Em presença da forma verbal acreditei, só o contexto e/ou a situação (ou circunstâncias) poderão mostrar se ainda acredito ou se já não acredito.

Em presença da frase (b), acontece o mesmo, porque o pretérito perfeito gostei refere-se apenas ao passado. Se eu não empregar o presente gosto, só o contexto e/ou a situação poderão confirmar que sim, se de facto o confirmarem.

Perante a frase (c), não se pode concluir que eu já não saiba, porque tal facto não é normal... a não ser que eu me tenha esquecido, o que também não é normal, a não ser por doença: falta de memória.

Não sei se fui inteiramente claro. Se não fui, estou à disposição da nossa consulente.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa