Portajar é também a forma atestada no Portal da Língua Portuguesa, mas o dicionário da Priberam, por exemplo, dá conta das duas formas – portajar e portagear – como válidas para dizer «colocar ou cobrar portagem». Por qual optar?
A proposta de base etimológica feita por Tavares Louro, em 2004, é tão válida na altura como agora, tal como será válida uma outra proposta assente na fonética. É tão-somente uma sugestão sobre um verbo com uso relativamente recente e localizado – não aparenta ser um recurso no português brasileiro,onde se usa o substantivo pedágio, nem é incluído no vocabulário da Academia Brasileira de Letras – e cuja fixação parece estar ainda em curso. E qual será a forma em que se fixará?
Diversos autores usam a imagem da língua como organismo vivo para dar conta, de um modo figurado, da constante mutação das diferentes formas de linguagem usadas pelos seres humanos, num espírito quase darwinista (e, tal como nas teorias evolucionistas, sem que evolução tenha um ideia de valor, para além da simples noção de mutação ou de mudança). É por isso que línguas como o latim são chamadas línguas mortas, não por serem línguas do passado – no latim há um património rico e diversificado linguístico e cultural que continua vivo e que deve ser atualizado e revisitado – mas porque são línguas sem falantes que possam acolher e integrar a mudança; nelas já não ocorre variação.
Para mal dos condutores portugueses, o termo em questão é uma palavra viva e atual – se não houvesse portagens, já não precisaríamos deste verbo, nem de outras palavras como buzinão, termo igualmente atestado no Portal da Língua Portuguesa e noutros dicionários – e os falantes terão um papel na fixação da norma. Do mesmo modo, também os gramáticos e os linguistas (leia, a propósito desta questão, este interessante texto de Ivo Castro). Não faremos, por isso, futurologia sobre que palavra irá vingar. Mas o ideal era que o verbo não fosse necessário e se tornasse um termo arcaico, como peagem.