1. Plural de palavras estrangeiras
Quando pomos palavras estrangeiras entre aspas num texto em português, queremos assinalar que elas não pertencem à nossa língua. Portanto, não sendo portugueses, esses termos subordinam-se às regras das línguas de que fazem parte.
Vejamos o plural do latim "medium" (meio de informação): é "media". Segue as regras do latim e não as do português. O mesmo se passa, por exemplo, com o inglês "lobby": "lobbies". E "software" não tem plural porque é um nome não contável.1
2. Excesso de palavras entre aspas
Já me aconteceu: ao redigir um texto técnico, verifiquei que, em quatro parágrafos, tinha seis ou sete palavras estrangeiras entre aspas. Ainda pensei substituir as aspas por sublinhados ou por caracteres itálicos ou negros. O efeito, evidentemente, seria semelhante.
"Fantasiado", como diz o Evandro Oliveira. Então, que fiz? Sem muito trabalho, substituí as palavras estrangeiras por portuguesas. Por exemplo, onde estava "media", pus: meios de informação; em vez de "outsourcing", escrevi: fornecedores externos.
Só não pude evitar, nesse texto, uma palavra estrangeira: "marketing". Noutras circunstâncias, poderia ter empregado o neologismo mercadologia. Não o fiz por dois motivos: se não criasse um contexto para o termo português, os destinatários talvez o não percebessem; se criasse esse contexto, tornaria o texto pretensioso.
Há, pois, palavras estrangeiras mais difíceis de traduzir do que outras. "Software" é uma delas. Talvez se possa substituir por conjunto de programas, programação geral ou, simplesmente, programas. Mas enraizou-se tão depressa em todo o mundo, incluindo Portugal, que o emprego de uma expressão portuguesa equivalente pode dificultar a comunicação com destinatários que não identifiquem "software", por exemplo, com conjunto de programas.
Perante estes problemas, o Michaelis, "Moderno Dicionário da Língua Portuguesa", que acaba de ser posto à venda no Brasil, regista o termo inglês "software". O mesmo acontece com o "Dicionário Verbo de Inglês Técnico e Científico", que traduz "software" por «software; conjunto de programas; programação geral; documentação».
Recordo, no entanto, que o que se usa agora pode amanhã cair em desuso. Veja-se o exemplo de "chauffeur" (correntemente aportuguesado como chofer). Ninguém diria, nos anos 30, em Portugal, que a esta palavra francesa hoje se preferiria condutor e motorista.
1 N. E.: Em inglês, tem relevo a oposição entre substantivos que têm plural (contáveis) e substantivos que não têm plural (não contáveis); um substantivo ou nome não contável «[...] denota uma substância material homogênea (p.ex., ouro, cloro, petróleo) ou um conceito não material sem subdivisões (p.ex., amor, audácia, disciplina) e que não pode entrar na oposição singularidade/ pluralidade, sendo us. ger. no singular» (Dicionário Houaiss). Em português, esta categoria também existe , embora não tenha sido obje{#c|}to de atenção pela gramática tradicional. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa regista o plural "softwares", mas esta forma só é concebível como aportuguesamento morfológico do vocábulo inglês. Nesse caso, à flexão de plural também deveria associar-se a ortografia do português na criação de uma forma portuguesa, que ainda não está fixada.