DÚVIDAS

Plural de estrangeirismos

Concordamos que quando houver equivalente em português deve-se abolir o estrangeirismo. Com a invasão da informática e seus termos, na maioria (ou seria totalidade?) dos casos em língua inglesa fica difícil a tradução e até verificamos alguns "crimes" quando traduzidos.

Uma questão diz respeito a utilização obrigatória de aspas/itálicos, que torna um texto técnico por demais fantasiado.

Outra questão refere-se à colocação destas palavras no plural. Um "software". Dois "softwares"?

Como proceder melhor?

Resposta

1. Plural de palavras estrangeiras

Quando pomos palavras estrangeiras entre aspas num texto em português, queremos assinalar que elas não pertencem à nossa língua. Portanto, não sendo portugueses, esses termos subordinam-se às regras das línguas de que fazem parte.

Vejamos o plural do latim "medium" (meio de informação): é "media". Segue as regras do latim e não as do português. O mesmo se passa, por exemplo, com o inglês "lobby": "lobbies". E "software" não tem plural porque é um nome não contável.1

2. Excesso de palavras entre aspas

Já me aconteceu: ao redigir um texto técnico, verifiquei que, em quatro parágrafos, tinha seis ou sete palavras estrangeiras entre aspas. Ainda pensei substituir as aspas por sublinhados ou por caracteres itálicos ou negros. O efeito, evidentemente, seria semelhante.

"Fantasiado", como diz o Evandro Oliveira. Então, que fiz? Sem muito trabalho, substituí as palavras estrangeiras por portuguesas. Por exemplo, onde estava "media", pus: meios de informação; em vez de "outsourcing", escrevi: fornecedores externos.

Só não pude evitar, nesse texto, uma palavra estrangeira: "marketing". Noutras circunstâncias, poderia ter empregado o neologismo mercadologia. Não o fiz por dois motivos: se não criasse um contexto para o termo português, os destinatários talvez o não percebessem; se criasse esse contexto, tornaria o texto pretensioso.

Há, pois, palavras estrangeiras mais difíceis de traduzir do que outras. "Software" é uma delas. Talvez se possa substituir por conjunto de programas, programação geral ou, simplesmente, programas. Mas enraizou-se tão depressa em todo o mundo, incluindo Portugal, que o emprego de uma expressão portuguesa equivalente pode dificultar a comunicação com destinatários que não identifiquem "software", por exemplo, com conjunto de programas.

Perante estes problemas, o Michaelis, "Moderno Dicionário da Língua Portuguesa", que acaba de ser posto à venda no Brasil, regista o termo inglês "software". O mesmo acontece com o "Dicionário Verbo de Inglês Técnico e Científico", que traduz "software" por «software; conjunto de programas; programação geral; documentação».

Recordo, no entanto, que o que se usa agora pode amanhã cair em desuso. Veja-se o exemplo de "chauffeur" (correntemente aportuguesado como chofer). Ninguém diria, nos anos 30, em Portugal, que a esta palavra francesa hoje se preferiria condutor e motorista. 

1 N. E.: Em inglês, tem relevo a oposição entre substantivos que têm plural (contáveis) e substantivos que não têm plural (não contáveis); um substantivo ou nome não contável «[...] denota uma substância material homogênea (p.ex., ouro, cloro, petróleo) ou um conceito não material sem subdivisões (p.ex., amor, audácia, disciplina) e que não pode entrar na oposição singularidade/ pluralidade, sendo us. ger. no singular» (Dicionário Houaiss). Em português, esta categoria também existe , embora não tenha sido obje{#c|}to de atenção pela gramática tradicional. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa regista o plural "softwares", mas esta forma só é concebível como aportuguesamento morfológico do vocábulo inglês. Nesse caso, à flexão de plural também deveria associar-se a ortografia do português na criação de uma forma portuguesa, que ainda não está fixada.

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