Questão: «Qual é a fracção que subtraída de 1/5 é igual a 1/6?»
Esta pergunta aplicada a valores numéricos tem um erro lógico-conceptual. Só seria legítima se a incógnita pudesse ter várias soluções e tivéssemos de escolher condições para a definir. Por exemplo: «Qual é o carro que visto ao longe, e na aparência, é igual a este?»
Ora, este raciocínio não pode ser aplicado a valores numéricos concretos.
A pergunta está mal formulada, no descuido que muitas vezes se tem com a necessidade de precisão na mensagem escrita.
Existe ambiguidade na expressão «é igual a». A palavra igual pode significar: «ser idêntico» (ex.: «esta cor é igual a essa») ou o sinal = , que separa dois membros duma equação algébrica, com o sentido de que se tem o mesmo resultado numérico nos dois membros.
É possível considerar-se correcta a hipótese 1, se dermos a igual o significado de «idêntico». Qual é a fracção que subtraída de 1/5 é idêntica a 1/6? Resposta: a fracção idêntica a 1/6 é 1/6... Subtraído ou não de 1/5, o número 1/6 é igual sempre a 1/6.
Atendendo, porém, ao valor do intelecto humano, que depreende normalmente sempre bem qual o sentido exacto pretendido numa frase ambígua, a pergunta correcta é a 2. Só a chicana política é que costuma aproveitar-se das ambiguidades óbvias para baralhar argumentos num contraditório.
De facto, o raciocínio automático é: como a pergunta fica sem justificação para existir, porque deixa de haver incógnita, então, se foi feita, é porque há uma incógnita, que é diferente de 1/6 (lucubração de nível já elevado, que exige múltiplas associações cerebrais, nem sempre ainda possíveis nas limitações dum computador). E ocorre a pergunta: qual seria a ideia da pessoa que elaborou a questão? Parece pretender que se calcule um valor que, subtraído de um valor de 1/5, nos dê um resultado de 1/6: Na frase, com a equação escrita por extenso, em vez de «é igual», devia estar: «dá como resultado». Assim, a interpretação lógica só pode ser a 2:
-x de 1/5 = 1/6 → 1/5-x = 1/6 → x = 1/30
Note, contudo, que, na língua, nem sempre é possível ser-se assim lógico... Por exemplo, alguém nos garante que não se trate duma pergunta armadilhada, para averiguar sobre a capacidade de discernimento linguístico, não a capacidade de cálculo matemático?
Ou seja, para escolher definitivamente a solução 1 ou 2, seria necessário saber quais as condições em que o problema foi formulado e a quem se dirigia.
A transmissão duma mensagem que se pretenda sem dúvidas deve ser unívoca. O que exige termos sempre presente que uma das qualidades da linguagem é a clareza, como não me canso de repetir.