O verbo correr, no sentido de «passar», «decorrer», tem um comportamento igual ao de portar-se, que seleciona obrigatoriamente um advérbio (como em 1) ou grupo preposicional (uma expressão introduzida por preposição como em 2):
1 – «Ele portou-se bem/de maneira impecável.«
2 – «O exame correu bem/sem problemas.«
O verbo correr junta-se, portanto, a um pequeno grupo de verbos que têm a particularidade de serem usados obrigatoriamente com um advérbio ou grupo prepocional. A Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 1187) refere-se a esta subclasse verbal como um grupo muito peculiar:
«[...] [A]ssinale-se a existência de um pequeno grupo de verbos, incluindo cheirar, (com)portar-se, funcionar, sentir-se e vestir(-se), os quais selecionam um constituinte com valor semântico de modo, que pode ser estruturalmente um advérbio, um sintagma preposicional ou uma oração relativa de modo introduzida pelo advérbio relativo como:
(80) a. Alguns advérbios funcionam como complementos selecionados.
b. Os meus alunos portam-se de uma forma horrível.
c. A flor cheira bem.
d. A Maria sentiu-se/veste(-se) assim-assim.
Embora este constituintes tenham uma estrutura e uma interpretação semântica de adjunto adverbial, são, no entanto, obrigatórios com estes verbos (cf. *alguns advérbios funcionam, *os meus alunos portam-se, *a flor cheira, *a Maria sente-se/veste-se), o que os torna semelhantes, nesse aspeto, a um complemento. Contudo, é importante notar que estes constituintes, ainda que selecionados pelos verbos em questão, não correspondem a qualquer participante na situação descrita; logo, não são realmente argumentos – nem, por conseguinte, complementos – do verbo [...].»*
*Nesta passagem, o termo «adjunto adverbial» significa o mesmo que modificador.