Pergunta-me como se deverá designar a sétima letra do alfabeto (G): guê ou gê?
Esta letra tem ambas as designações. A sua primeira designação é a de guê, correspondente à pronúncia clássica latina (a restaurada), já que em latim era uma oclusiva sonora velar, muito semelhante a C, que é uma oclusiva surda velar. Sendo esse o valor da letra em todas as situações em latim, obviamente que não poderia ser designada de “gê”.
Duarte Nunes de Leão, insigne jurista, historiógrafo e glotólogo, na sua Ortografia da Língua Portuguesa (1576) refere que usamos o G na sua própria significação quando o juntamos às vogais a, o e u, e que «outra pronunciação lhe viemos a dar, imprópria e adulterina, quando se ajunta ao e, i, que fica soando como i, consoante1 (...). A qual pronunciação com e, i, é alheia dos Gregos e Latinos, e própria dos Mouros, de quem a recebemos. De maneira que para pronunciarmos o G com e, i, da maneira própria e natural, como o pronunciamos com a, o, u, lhe acrescentamos um u, líquido, e dizemos Ga, Gue, Gui, Go, Gu».
Aliás, na pronúncia restaurada do latim, o G lê-se sempre “guê”, mesmo junto de e e i (Cfr. Iniciação ao Latim, de Carlos Alberto Louro Fonseca, 1983, pág. 6, ou Gramática Latina, de P.e Manuel Francisco de Almeida, 1940, pág. 11.)
Na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (vol. 11, pág. 1021), a respeito da sétima letra do alfabeto, podemos ler o seguinte: «Denomina-se gá ou guê e jê, correspondendo aos dois valores dados à mesma consoante: o de guê de galo e o de jê de gemer. João de Deus, na Cartilha Maternal, chama-lhe jêguê, juntando os dois valores”.
Assim, primitivamente, esta letra tinha a designação de guê, correspondente à sua articulação gutural velar, e só posteriormente veio a adquirir também o nome de gê, correspondente à sua posterior articulação.
1 : O “i consoante” é o actual J. O G fica a soar como “i consoante” junto de e e i.