Os elementos de uma língua organizam-se em torno de dois eixos:
– eixo paradigmático ou eixo das relações (sinonímia, antonímia, etc.), e
– eixo sintagmático ou eixo das ocorrências ou combinações (regências e combinatórias).
No eixo sintagmático, as unidades mantêm entre si relações de contraste. A relação combinatória das unidades define-se como a possibilidade de as unidades se associarem entre si para formarem grupos que permitem a realização de unidades de nível superior. Por exemplo, a combinatória de fonemas resulta no morfema, a combinatória de morfemas resulta no lexema ou no sintagma, e assim por diante, até ao discurso. A análise combinatória parte de um corpus de materiais linguísticos.
No léxico, as combinatórias lexicais resultam da combinação de duas palavras. Essas palavras tendem a co-ocorrer, ou seja, têm um índice muito elevado de ocorrência preferencial no discurso, como «luto carregado/*pesado» ou «amplo consenso».
Por exemplo, em «amplo consenso», o substantivo consenso selecciona como co-ocorrente privilegiado o adjectivo amplo, no entanto, isso não quer dizer que só possa ocorrer com esse adjectivo. Existe, sim, uma grande probabilidade de ocorrer com esse adjectivo.
Quanto mais polissémica for uma palavra, maior é o número de palavras que podem ocorrer à sua direita ou à sua esquerda. Por exemplo, opíparo é um adjectivo monossémico que qualifica o esplendor ou a magnificência normalmente de uma refeição. Este adjectivo apenas se pode combinar com substantivos como almoço, jantar, banquete, piquenique, conforme o exemplo:
«O Rafael serviu-nos um opíparo jantar.»
A seguir indico alguma bibliografia que pode ser útil:
Na língua portuguesa:
Sítio do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, com informações sobre o projecto “COMBINA-PT Combinatórias Lexicais do Português” e bibliografia extensa sobre combinatórias, incluindo o Dicionário de Combinatórias do Português (DCP), disponível no CLUL.
Valente, Renata; Iovka Tchobánova, Mário Almeida & Sofia Ferreira (2004) Problemas de tratamento e sistematicidade na compilação das combinatórias lexicais no Novo Aurélio Século XXI. Freitas & Mendes (orgs.) Actas do XIX Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística (APL). Lisboa, Portugal.
Pereira, Luísa Alice (1994). Como se combinam as palavras? Contributo para um Dicionário de Combinatórias do Português, Lisboa, FLUL.
Outras línguas:
Beson, M.; Benson, E. & Ilson, R. (1986). The BBI Combinatory Dictionary of English. A Guide to Word Combinations. John Benjamins, Amsterdam/ Philadelphia.
Mel’cuk, I; A. Clas, A. Polguére (1995). Introduction à la lexicologie explicative et combinatoire. Coll. Champs linguistiques/Université francophones, Louvain-la-Neuve/Paris: Éditions Duculot/AUPELF-UREF.