Como o consulente poderá compreender, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa é sobretudo um consultório de dúvidas sobre a língua portuguesa. Não pode, por isso, dar pareceres sobre conceitos e termos de determinado domínio científico. O mais que podemos fazer é aflorar a definição dos termos em causa. Assim, direi, de modo muito sintético, que o conceito de objectivo surgiu no discurso pedagógico e na política de educação em Portugal, pelo menos, nos anos 70 do século passado. Provém da chamada pedagogia por objectivos, que é definida por Olga Pombo (in Logos. 1. 1984, pág. 47-72, disponível no endereço http://www.uma.pt/jesussousa/CE/7PorouComobjectivos.pdf), deste modo:
«[...] conjunto de princípios metodológicos mais ou menos precisos e de técnicas pedagógicas mais ou menos rígidas, inspirados em trabalhos de pedagogos norte-americanos dos anos 50 (Tyler e Bloom) e que conheceram posteriores desenvolvimentos quer nos Estados Unidos, quer na Europa, de entre os quais se referem, como mais conhecidos entre nós, os trabalhos de Mager, Vandevelde, Krathwohl e Landsheere.»
Nos anos 90, no contexto da discussão do insucesso escolar, o pensamento de investigadores em ciências humanas, como Philippe Perrenoud, encontrou eco nas políticas educativas e na elaboração de programas escolares. Ganhou assim relevo o termo competência, definido por Perrenoud do seguinte modo (artigo completo nas páginas da Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular):
«Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações. Três exemplos:
Saber orientar-se numa cidade desconhecida mobiliza as capacidades de ler um mapa, localizar-se, pedir informações ou conselhos; e os seguintes saberes: ter noção de escala, elementos da topografia ou referências geográficas.
Saber curar uma criança doente mobiliza as capacidades de observar sinais fisiológicos, medir a temperatura, administrar um medicamento; e os seguintes saberes: identificar patologias e sintomas, primeiros socorros, terapias, os riscos, os remédios, os serviços médicos e farmacêuticos.
Saber votar de acordo com seus interesses mobiliza as capacidades de saber se informar, preencher a cédula; e os seguintes saberes: instituições políticas, processo de eleição, candidatos, partidos, programas políticos, políticas democráticas etc.
Esses são exemplos banais. Outras competências estão ligadas a contextos culturais, profissionais e condições sociais. Os seres humanos não vivem todos as mesmas situações. Eles desenvolvem competências adaptadas a seu mundo. A selva das cidades exige competências diferentes da floresta virgem, os pobres têm problemas diferentes dos ricos para resolver. Algumas competências desenvolvem-se em grande parte na escola. Outras não.»
Aparentemente, os conceitos de objectivo e competência podem conjugar-se, porque a definição de objectivos permite identificar comportamentos que são índices de aquisição, desenvolvimento e domínio de competências. Note-se, contudo, que se trata de conceitos que vêm de perspectivas teóricas e metodológicas diferentes, pelo que repito: os esclarecimentos que pede terão de ser feitos directamente às entidades responsáveis pela formulação e pela aplicação dos programas da disciplina de Língua Portuguesa.